terça-feira, setembro 23
lisérgico
São João em Cachoeira
Foto de Adenor Gondim
para Nono e Dita
indolor, na algazarra junina,
meu corpo arde na fogueira da festa:
sou a lenha, o fogo, fumaça,
cinzas e brasas...
é, agora, úmida pedra
o que era em chamas...
e logo sou doce líquido,
leite e o lodo do leito e rio...
gargalhando sou cachoeiras,
vertigem,
vida e morte.
faço-me em ondas, mar,
salgada espuma
e sou a areia da praia.
sou o barco,
a rede, o peixe, o pescador,
seu sonho e sua lanterna.
sou a palha do coqueiro,
sou fruto, vento
e a mulher que espera.
sou cisco nos olhos
e o olho que olha
pelo caleidoscópio.
sou o que canta
e o som de bilhões de bocas,
tantas famintas.
sou o beijo,
a cópula em milhões de alcovas,
o gozo, o fracasso.
indistinto de mim, sou quem, sereno,
me observa quando alado
transluzo-me celeste.
sou todo o espaço que há e tudo que o ocupa...
sou o infinito, o eterno, o onde não há o tempo.
sou planeta, estrelas, galáxias, Deus, O diabo.
sou um lisérgico passageiro nesta viagem mágica.
Fred Matos
Publicado em “Eu, Meu Outro”
Editora Poesia Diária
Maio/1999.
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