quarta-feira, outubro 15

BERLIM, 1928 - Daniel Francoy


Daniel Francoy ©

Foto: Fred Matos


Sobre a cidade não velam os anjos
e as catedrais, oblíquas e sombrias,
rasgam as madrugadas escarlates
e as ventanias que a carne magoam
evocam o martírio de santos mortos.
De súbito as canções dos cabarés
invadem as vielas assombradas.
Como é atroz tamanha decadência:
um velho soergue um cálice e grita
um brinde à loucura de Calegari;
um nobre mutilado e gordo impreca
o fato de não ter sido tragado
pelos malditos olhos de Pandora;
uma judia dança enlouquecida,
murmura o nome do senil amante
cuja cabeça pede em um prato.
Contemplo-a assombrado, indagando
que mítica mulher poderá ser:
se Pandora, Cassandra ou Salomé.
Muito maliciosa, ela ri:
Ah, nada temas. És somente um jovem
e eu uma bela mulher de olhos negros.


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