quinta-feira, outubro 30

joão e maria

[pequeno drama cotidiano]


ilustração: Foto Fred Matos

com duas facadas certeiras
firmemente desferidas,
uma no rim, outra no peito,
joão tirou a vida
de maria aparecida.  

era a mãe dos seus filhos,
sua primeira namorada,
não se lhe conhece defeitos,
era mulher de respeito,
era por todos amada.  

os vizinhos não relatam
nem ligeira desavença,
ela sempre fora mansa,
não há quem se convença
que ela não era santa.  

de joão o que se diz
é que é homem pacato,
trabalhador e honesto,
não há quem se convença
que é de fato culpado.

mas ele próprio confessa
o ato desatinado,
não sabe por qual motivo,
não estando embriagado,
cometeu o assassinato.  

dizem que é coisa do demo,
sinal do fim dos tempos,
coisa tão inusitada,
com duas facadas certeiras
joão matar sua amada.





Fred Matos
publicado em "Anomalias".
Editora Kelps
Setembro/2002



2 comentários:

Anônimo disse...

O poema é uma crônica do cotidiano século XXI na periferia, infelizmente. Retrato perfeito. A fotografia que o ilustra é impressionantemente forte, coisa de artista mesmo.Parabéns. Não vou deixar de mencionar a foto do cachorrinho na janela anterior. Deu uma saudade de Capitu, minha cadela muito amada, muito parecida com esse,e que morreu ano passado lá na casa da praia.Que saudade, Capitu! Abraço Fred.

Fred Matos disse...

Gláucia,
É imensa a satisfação por receber a sua visita, leitura e comentário. O cachorrinho... É um folgado que fotografei em Trancoso. Já a foto da ilustração é de uma escultura que há no Jardim Botânico de Buenos Aires, lamentavelmente não há placa indicando o autor.
Venha sempre!
Obrigado.
Beijos.

pesquisar nas horas e horas e meias