Dedicada ao poeta lírico Fred Matos
ilustração: foto de Luc Selen
A chuva parou.
Na vidraça, gotas d’água,
regidas por um invisível maestro,
soltam-se de repente e
uma após a outra, escorrem.
A princípio lentamente.
Depois, engolem outra e outra
no caminho e rapidamente...
A morena disfarçada
cruza a perna e a saia roxa
sobe um palmo e a malvada
mostra uma lapa de coxa
e perco o fio da meada
Abrem a janela.
Entra uma lufada de vento.
Neste momento,
o candelabro de cristal inicia
a tocar uma suave melodia.
Os cristais dançam e reluzem
embalados pela brisa
e uma mariposa tardia...
A morena, disfarçada,
se abaixa de tal jeito
que o decote da danada
abre e eu vejo um par de peito
e perco o fio da meada
Lá fora, soa lúgubre
uma sirene rasgando
o silêncio da madrugada.
Passos, gritos, correria,
mais uma tragédia humana
induz-me a pensar na fragilidade
da vida, da morte leviana,
da ameaça sombria...
A morena, disfarçada,
todo o salão enche, inunda
com uma dança rebolada
e o tamanho da bunda
e perco o fio da meada
Agora meu peito crepita
com o fogaréu de um desejo
meu corpo todo se agita,
Quero mandar-te um beijo
quando ela, de repente me fita.
Mas, ao lado, o garanhão
não descuida um instante
mando-te um bilhete então:
Querida meu coração
anseia ser seu amante...
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