quinta-feira, outubro 2

poetas de outras horas - E. M. de Melo e Castro


Fénix


ilustração: foto de Mário Cravo Neto


procuro a pena mas a pena é pato
que num bico de tinta se tortura
e esfera que roda na tontura
de uma letra difícil e que mato

a pena é arma e ama quem a usa
esferograficamente ou só carvão de lápis
o sangue negro da caneta é rubro
como um sonho de rosas que se abusa

neste papel espelho narciso é filiforme
envolvido de dedos e impulsos
a perturbar a folha do plátano outono

e a escrita surge em água ou animal
que foge pelo espaço dos seus usos
e se nega na entrega de um sinal.




O poeta, crítico e ensaísta, Ernesto Manuel de Melo e Castro, nasceu na Covilhã, Portugal, em 1932.
Em 1956, formou-se em Engenharia Têxtil em Bradford (Inglaterra), em 1956. Foi professor de Design Têxtil no IADE (Instituto Superior de Arte, Design e Marketing). Doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo (1998).
Em 1961, com a publicação de “Ideogramas”, introduz a poesia concreta em Portugal. Deve-se, também, à sua iniciativa a publicação, no Jornal do Fundão e no Notícias de Luanda, de páginas especiais dedicadas à poesia experimental.
Tem dezenas de livros publicados.

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