sábado, novembro 1

almenara


ilustração: Luana Piovani
não sei quem é o autor da foto



se os meus braços tremerem

a minha voz embaçar-se

os meus olhos umedecerem

a natureza conspirar

e meus ossos virarem cinzas

 

se o tempo não vier

e vindo seja findo

o encanto que nos une

não me terás perdido

 

viverei nos teus sentidos

no vento que te acaricia

em cada pétala macia

de cada flor que afagues

viverei até que se apague

do sol a última chama

 

serei o perfume da cama

serei o som do silêncio

as notas de uma sonata

serei a palavra exata

que se te escapa no gozo

serei o amante ardoroso

para as tuas fantasias

serei todos os dias

teu servo mais dedicado

serei o anjo enviado

para velar o teu sono

serei no teu outono

a maturidade tranqüila

 

nas tuas mãos serei argila

sêmen água e sândalo

e se houver escândalo

serei o teu segredo

apaziguarei os teus medos

será tua a minha alegria

porque tu és a poesia

a alma que me anima

és a jóia mais rara

o clarão da almenara

que ilumina meus passos

és a régua e o compasso

com que traço a minha vida.

 

só por ti se consolida

em mim uma nova sintaxe

és do meu ânimo o ápice

do meu cansaço o repouso

só por ti é que eu ouso

romper todas as cadeias

não é morto quem peleia

estou mais vivo que nunca

nenhuma palavra se trunca

embora não sejam perfeitas

e na estação da colheita

serei o fruto maduro

semente do teu futuro.



Fred Matos

 

 

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