eu, meu outro

 Não sei exatamente quando escrevi o meu primeiro poema, o mais antigo que ainda tenho guardado e cujo título é "O pobre e o cego" é datado de 1963: eu tinha 11 anos. Entre safras e entressafras a vida foi passando sem que eu tivesse ambição de publicar ou ilusão de ser poeta de verdade. Alguns poemas ficaram guardados, outros foram para o lixo.

Com a popularização da Internet, comecei a participar de listas, salas e fóruns de poesia on-line e, por culpa de alguns amigos virtuais, - entre os quais Aníbal Beça, CAlex, Isabel Machado, Helena Monteiro, Douglas Mondo, Vítor Barzilai, Rosy Feros, Rosa Clement, Manuel Rodrigues, Nálu Nogueira e Marco Aurélio Pais - publiquei, em 1999, o "Eu, Meu Outro" uma edição de autor, sob o selo da "Editora Poesia Diária".

O livro é uma coletânea que reúne os poemas que escrevi em 1998, influenciado pelas listas, com alguns poemas que haviam sobrevivido à lata de lixo. Naturalmente tem alguns poemas razoáveis e outros que, para não chamar de péssimos, direi infantis.

Não os nego, entretanto, e publico-os, nesta página, na ordem em que aparecem no livro e sem as alterações que fiz posteriormente em alguns poemas que publiquei no blog.
  



dedicatória

primeiro livro; único, talvez;
dedico-o a Dila, companheira;
a Amon, Isis e Fred, filhos
a Dalva, mãe e estrela,
à memória de Ari,
pai e inspiração
e para Cristina e Patrícia,
que partiram em flor
e vivem na minha lembrança.






Confissão

Entre o que sinto e o que traço,
o que penso ser e o que pareço,
sou o aflito que disfarço.

Minha vida foi perdida. Padeço
da covardia, atávica e mórbida,
dos que amoldam-se ao contexto.

Minha alma foi fraudada. Ardo
de anseios postergados. Tardo
em dar cabo aos meus medos.



Sentença


Quando não via, que podia haver,
dor mais dor, que a do amor perdido,
pedi, aos deuses, que dos sentidos
do amor, nunca viesse sofrer.

No coração, em pedra transformado,
não alentei as paixões que inflamam;
muitas mulheres tive na cama,
nenhuma tenho ao meu lado.

Assim, vazio de tudo, me encontro
guardando, em silêncio obsessivo,
a dor da solidão, onde me calo.

Rogo, aos deuses, que ainda possa haver
tempo, de remir os meus pecados;
que, à dor maior, fui por eles condenado.



Ausências

De ausências fio esta teia,
onde enredado me acho;
a meada trouxe do berço,
primeiro porto dos medos
onde antevi meu fracasso:
a mãe negou-me os seios
o pai negou-me os braços,
neguei-me aos meus anseios
e lancei-me, embaraçado,
nas sendas que permeiam
as ilusões, que me atam
numa racionalidade vácua,
que me nega fé aos fados,
aos deuses, ao abstrato.

Os deuses negam-me esteio;
eu lhes nego meus atos.



Solidão

Negros espectros apavoram meus sonhos,
se quando durmo não lhe tenho ao lado;
são vestígios dum longínquo passado
aferrados ao inconsciente. É o que suponho.

Sou ainda refém dos temores originais,
eras em que, como ainda, a cizânia impera;
lutam sem glória, em mim, o homem e a fera,
pedaços meus que herdei dos ancestrais.

Acendo chamas que iluminem e aqueçam
a noite fria da caverna e espantem o medo
de ficar acompanhado só com meus segredos.

Ascendo preces aos deuses, faço oferendas,
na esperança de poder lhe ter nos braços,
que, sem você, sou só lembranças do passado.



Contrição

Insidiosamente virá.
A morte virá infalível.
Bem aventurados os
que não sofrem com isso.

Eu a espero contrito.
Tenho sido seu aliado,
néscio nos cuidados
que devia ter comigo.

Cedo ou tarde virá,
usando qualquer artifício
para seu abraço fatal.

Absolutamente morto,
infinitamente findo,
serei objeto, abjeto, ábdito.



Herança
(Para Guido Guerra)

Sou o parvo que palavras lavra,
como sementes em solo estéril;
a vida que levo é um escárnio,
não há quem me leve a sério;
mitigo na alma a tristeza atávica,
que levou meu pai ao cemitério.

Para iludir a fatalidade, inscrita
nos cromossomos que herdei,
faço dos sentimentos mistério
e, com o âmago esfarrapado
dos sonhos que sofreei,
da dissimulação faço a lei.

Mas, quando cai a madrugada,
às fantasias me entrego
para cumprir minha sina
e, anônimo, em versos pálidos,
revelo os anseios e taras
de uma alma caftina.



Melopeiar
(Para Guiga e Lúcia)

Na mecânica quântica do léxico,
catar palavras que desconexas
semeando melopéias sem peias.
Para pôr ritmo, verbos à mancheia.
Para os formar, use sufixos verbais
e faça um novo e rime com ovo ou estorvo
e, para contrastar, observe que serve
atentar à sonoridade acústica da lata.
Tá, tá, tá, tá, tá, tá, tá.

Está na moda o poema piada,
e palavras q
                    u
                      e escorrem
como se fossem cataratas.
A desconformação é um zagueiro
que só sabe dar pontapé.
( Ah! saudade de Zico e de Pelé.)
Que novo gênio nos resgate
do embuste que emburra, e urra
loas à fugacidade estética.

Poeta, amigo, entorne o caldo;
faça uma sopa supimpa,
temperada com um pouco de escarro.
Esconda um cadáver no armário.
Navegue orbitas assimétricas.
Há manchas de sangue na faca,
um verdugo no cadafalso,
e na ponta do laço; um poeta.
Na platéia exultam seus pares.

Não perca a hora da festa
onde a lascívia se instala.
Sorva da vulva, sem nojo,
a última gota de orvalho.
Se você não é ele, é ela;
tome na boca um caralho
e beba do mel que lhe oferto.

E engula que é líquido raro.

Para comover, use sem pejo:
flor, infância, dor, solidão;
a prece de uma anciã,
qualquer coisa cotidiana,
uma puta, uma cabana,
nossa irrelevância humana,
a sua febre terçã.

Vermelho é a cor do desejo,
abuse de abraços e beijos,
um violino, um piano, uma flauta.
Se abunda a bunda da mulata,
abunda no verso o tesão.
Só razão é que lhe falta.

Pinte um lago manso,
um sonho denso,
sombras de árvores e pássaros
bruma, pena, espuma, espaço;
dê asas à imaginação.
Deixe que escorra sangue na tela,
apele aos deuses do Olimpo,
aos Orixás, a Xiva, a Tupã.
Se puder, como fez Vinícius,
vá morar em Itapuã.

O mar, quando amanhece, tece
na praia o hilário e raro enlace
do côncavo com o convexo;
mas, ainda que seja ou soe falso,
não tem a menor importância :
o horizonte é uma miragem
que o poeta ocultando revela.

Se o barco é a motor, desfralde velas
que o vento enfuna e o sol enfeita
com as tintas do espírito santo.
Há uma sereia, ouço seu canto
e encantado faço-me escravo
e escrevo versos na areia
como quem borda a mortalha
com que irá ao cemitério.

É de bom tom fazer mistério.



Mortalha

Adequada à qualquer ocasião,
teci, fio a fio, essa mortalha,
moldada para ocultar a falha
onde medra a dor da solidão.

Encoberto, dos pés à cabeça,
pus na cara um sorriso alegre,
onde da alma nada se revele,
e do íntimo nada se esclareça.

Uma a uma, maquiando cicatrizes,
passo os dias, um a um, atarefado,
ensaiando gestos, que ajustados,
à pantomima vácua dos felizes.



Alternativas
(Para Mariana)

Perde a vida quem a ata a laço,
crédulo numa verdade definitiva,
quando tantas são as alternativas,
quanto astros há, no infinito espaço.

E, no perdê-la, a faz cativa
do traçá-la, traço a traço,
forjando, a régua e compasso,
as cadeias em que a escraviza.

Quem à ambição de glória ou ouro
empenha a existência, renuncia
ao seu único e verdadeiro tesouro.

Mas quem, ao sabor do acaso,
vive intensamente cada dia,
fada-se à insídia do fracasso.



Teço versos
(Para Jó e suas Anas)

Apesar do corpo lasso,
do libido apascentado;
teço versos, traço planos,
devaneio, me devasso.

Amanhece, não percebo,
perco a hora do trabalho.
Perco o emprego, mulher,
família, equilíbrio, dinheiro.
Ainda assim, não me emendo,
teço versos, traço planos,
devaneio, me devasso.

Amanhece, não percebo,
perco a hora da entrevista.
Perco a chance, a esperança,
perco o sono, perco amigos
( que não gostam de poesia )
e por isso teço versos,
traço planos, devaneio, me devasso.



Ser racional tem sido o meu desastre

Quero, com imagens,
construir um mundo
onde exista perceptível
um pensamento puro ;
sem que isso se entenda
me lhes afigurarei imundo.

As imagens dão ao intelecto
um subsídio suspeito :
a condição humana é a substância.
Não há o azul no firmamento
ou o há por circunstância.

Todas as imagens são possíveis.
Os sentimentos que se vive ou cria,
são indiscerníveis e equivalentes :
Pessoa disse que o poeta finge
a dor que deveras sente.

A consciência são objetos
com que represento o mundo.
Imaginação e entendimento
não são absolutamente distintos.
"Penso, logo existo",
aprendi com Descartes.
Ser racional tem sido o meu desastre.



Horizontes
(Para Walter e Lenaide)

1.

Nem todos os horizontes são horizontais.
O meu é O muro, vil, vertical, bruto,
barrando os de lá, do lado de fora;
paisagens que os poetas namoram,
e que ardem, quando findam as tardes.

Há, sei, os que são metas, metáforas,
povoados de ambições e lubricidade,
mas são ilusões, e são,
se lhes queremos alcançar, cansaço.

O meu horizonte é substantivo próprio.
É O muro. Um muro alto, caiado, sóbrio.
Mais que barreira física, moral.

Os portões ficam fechados,
mas os guardas facilitam fugas
a troco de alguns trocados.

O que posso querer do outro lado?
Liberdade? Qual liberdade?
Liberdade para ouvir que não há vagas?
ou que estou velho para o trabalho?
Liberdade para ouvir :
-- Vá trabalhar vagabundo.
Quando tudo que peço são migalhas?
Liberdade para chorar
pelas crianças prostituídas?
Liberdade para roubar, matar,
ser preso, torturado, extorquido?

Não, não há liberdade lá ou cá.
Horizontes e liberdade são miragens,
estão onde não se pode alcançar,
são sonhos guardados na lembrança,
são esperanças que não tenho mais.

2.
   
Sobre o mar,
desponta no horizonte,
a primeira lua do outono;
última azul do milênio,
segunda deste ano.

Tapete no oceano,
imã do meu olhar,
o manto de prata se estende
do ocidente ao oriente,
do tangível ao abstrato.

Faço um leito com argaços,
para esperar o nascente
cingindo-te nos braços.

Que o horizonte seja a moldura,
onde são suas pernas compasso.


3.
   
Ao horizonte parto agora,
na minha última jornada;
as mãos vão vazias,
e na alma, destroçada,
vãs são as lembranças
duma vida esperdiçada.

Da sinfonia divina,
um só acorde acorda,
fechando a tarde morna,
minha vil melancolia,
que a lua, essa madrasta,
escande na noite fria.

Soberana da noite,
velha rameira;
meu óbolo,
já paguei ao barqueiro.
Tardo em ir,
mas vou inteiro.

4.

Meus olhos buscam um horizonte etéreo,
no aparente caos da arquitetura celeste,
e fitam, além dele, além do leste e do oeste,
onde Deus engendra os seus mistérios.

Vejo-o, ele brinca, não é um homem velho,
como O vi retratado nos versos de Dante.
Tem ao lado, magoado, a presença constante
de um poeta pândego, que se pretende sério.

Reconheço-o. Sou eu mesmo, neste espelho,
que as mazelas humanas reflete.
Revolta-me ver que sou um marionete,
que Ele manipula sem amor ou zelo.

Meus olhos voltam rápidos ao horizonte,
que Desta Verdade me quero distante.




Exercício esdrúxulo

Querendo cantar poema sólido,
mínima retórica e nítida temática,
procurei perenes palavras mágicas,
sílabas ancípites e estética própria.

Desejando deificada poética lúcida,
com rimas ricas e métrica clássica,
sobracei, sôfrego, signos soando líquidos,
pérolas plásticas de sonoridade acústica.

Melancólico, porém, maturei-o hermético,
elidindo a silepse em silogismo erístico,
erigindo fátuo, falso ser enigmático.

Falta-me, é fato, tutela teórica e prática
para lograr em versos veículo lógico
que o abstrato transluza em telúrico.



Ao dicionário

Não faço versos com sentimentos ;
são as palavras a matéria-prima.
Pouco se me dá métrica e rima :
fundamental é suscitar fonopsia.

A fonética, arcano da fonologia,
multifaceta as regas da prosódia.
Veja como é fácil fazer poesia
quando se tem um bom dicionário :

Em lugar de perplexo, escrevo vário;
o leitor entenda como quiser.
Quiçá, fecundo, faça fé.

Pedante, paragógico, paramnésico,
o elóquio elíptico emascara o elo.
Eloqüente uma silepse tenho ao pé.



Desconcatenado
(Para Marly e Ronan)

Cato palavras no Aurélio
e faço versos como muros...
Nunca ouvi cantar as musas,
nem tenho sentimentos puros.

Não tenho a visão dos místicos,
nem sei concatenar o abstrato...
Não importa o que penso ou sinto :
tudo o que escrevo é retrato.

Não quero lhes impingir pilhérias
dizendo de coisas que não vivi,
nem quero expor minhas misérias.

Não há nada essencial de que eu faça,
(O sonho é pessoal, a vida fatal)
a trama deste drama banal.



Palavreador
(Para Vanja e prole)

Lavro as palavras,
construo poemas,
bloco de letras,
versos sem temas.

Na página branca,
claro desafio,
traço brinquedos,
teias sem fio,

paisagem sem cor
sofrimentos sem dor
paixões sem amor,

pavores sem medo,
vidas sem morte
navalhas sem corte.



Máscara

Ainda que útil,
mesmo que bela,
tirei a máscara
que pus por ela
e que por hábito
virou feição.

Restou, porém,
um rosto feio,
de ricto triste
e, de permeio,
olhos vermelhos,
secos de mar.

Tamanha afronta
não se perdoa.
- Por mais que doa
(ela me exige)
 "a cara alegre
   volte a usar".




Vício infértil
( Para Juliana, afilhada)

Desde ver-te, noites insones velo
vindimando versos, vício infértil,
se, de mim, é o ego que revelo
e ele é uma máscara inútil.

Os sonhos que reprimo, tantas taras,
mesmo a mim é negado saber,
que em remoto dia, outras eras,
não me lembro quem, me fez esquecer.

No exercício de mostrar-me íntegro,
cai a máscara, que outra oculta,
e me perco onde me acho ímpio,
fruto peco que o sofrer avulta.

As noites ermas passam lentamente
e minha poética persiste latente.



Desvelamento


Ama, em mim, apenas
o que de ti reflexo;
sou somente espelho
do que vivo em versos.

Como espelho sou,
os sinais estão trocados :
te amo onde me vejo,
te vejo se me regalo.

Perdi meu coração
num desvelamento da alma,
na clareira então aberta...,
só a lascívia se instala.



Nada é, se não existe

Não fique triste menina,
chorar assim, é pecado.
Tudo é efêmero e fado.
Cumpre-nos gozar a sina
da vida que nos foi dada.
O sofrimento é baldado.

Nada é se não existe,
ou é, em memória, guardado.
Não há o tempo por vir,
todo o tempo é passado
e o passado só resiste
se por alguém recordado.

Não fique triste menina,
chorar assim é pecado.
Se o futuro não existe
e é apagado o passado,
viva somente o momento
que é agora ao meu lado.



Se eu fosse um anjo

Tivesse asas, fosse um anjo,
poderia cingir-te aos braços
sem a volúpia que me inflama
e não roubaria os beijos
da boca que não me ama.

Poderia, talvez pudesse,
serenar-te o ânimo,
murmurando velhas fábulas
de amizades inumanas;
tivesse asas, fosse um anjo.

Poderia, talvez pudesse,
levar-te às estrelas,
onde se pode entender
a insignificância de tudo;
tivesse asas, fosse um anjo.

Mas não sou um anjo.
Pulsam, em mim, as paixões
que movem a espécie humana,
e o meu desejo é maior
que a razão que a hora clama.



Em sombra e luz

Em sombra e luz
teu corpo me é revelado
em equilíbrio perfeito
como se inanimado.

E nada mais direi
pra não cair em pecado.



Luzia
(Para Luzia, claro)

Corpo de mulher,
jeito de criança....
teus imãs olhos,
(magnética metáfora),
revelam o sorriso
que a boca trava.

Nos gestos contidos
de felina mansa,
distingo o esboço
do vulcão ativo,
que, alheia a mim,
tua alma estanca.

Ao oceano prenhe
de ânsias humanas,
reduzindo os sonhos
ao que a mão alcança,
o superego ordena :
- Adapte-se à dança.

Cumprindo assim,
do original pecado,
a fatal sentença,
a vida avilta-te
na inglória luta
da sobrevivência.

O quadro pálido,
que aqui retrato,
é paisagem clara
do meu eu, reflexo
que em ti Luzia;
e é tua fotografia.



Os sonhos não morrem
(Para Minon e Ely)

Sentir o calor da sua pele...
( macia, morena e morna )
remete-me ao nosso passado,
contraste do presente.
Compartilhávamos sonhos
que nunca abandonei.

Você ainda usa os anéis
com símbolos de paz e amor,
ouve Joplin e The Who,
mas entendeu errado
o recado que Lennon cantou.

I don`t believe in Lennon
I just believe in me
You and me
And that`s dream.

Toma-me, nos braços,
como a mãe a um filho
carente de ternura e compreensão;
como uma filha ao pai
que requer amparo,
como amiga, amante, irmã;
não como proprietária
ao seu quinhão.

"... for the first time in my life
my eyes are wide open...
... for the first time in my life
my mind can feel..."

Olha-me nos olhos,
não para onde eles olham,
e serão os seus que eles verão.



Temporão
(Para Clarice)

Cá já há
cajus azuis
como
os araças
de Caetano,
espadas
mangas,
sapotis,
pitangas,
uma rede na sombra,
a mansidão atlântica
e um poeta insone
cantando canções de ninar.



Prazer fugaz

" Não toma, Fred,
deste fruto;
amargo é o seu doce sabor".
Me disse o Deus do absurdo:
" Procure com mulheres belas
saciar o prazer fugaz.
Nada mais".

Mas ao Deus,
do bom conselho,
fiz ouvidos moucos...
Por isso vivo louco.
Não sei o que fazer
prá que ela volte ao porto
onde, de saudades morto,
me deixou..., não voltou mais.



Fado antigo
( Para Marina)

Ouço, se não me traem os sentidos,
soando das cordilheiras líquidas do mar,
cordas de aço cantando um fado antigo.

Ouço mulheres chorando a saudade dos filhos,
dos amantes, dos maridos;
marinheiros que nunca vão voltar.

Na esperança de que voltem,
trocam as flores secas das grinaldas
as noivas que nunca vão casar.

São vozes gregas, fenícias, portuguesas...,
que em comum toam, com a mesma melancolia,
a dor de quem vive só; só por esperar.



Da paixão alucinada

Não quero amor, quero paixão.
O amor é coisa fria ,
filha da amizade com a compreensão.

A paixão, qual som de violinos,
é dor, é sangue, é desatino,
é querer possuir possuindo;
é querer ainda mais, pois não atino
em como conter tal vulcão.

Quero lanhar tua pele (que é tão macia),
macular essa beleza que me endoida,
explodir em delírio e fantasia.



Alienação
(Para Geraldo Mário)

Sobre a terra nua, onde habitam,
crianças comem, cagam e brincam,
disputando com ratos os restos do pão.

Atenta à novela da televisão,
a que as pariram, grita para que se calem,
que a vida que vive é àquela imagem,
onde descobre que a sociedade
progride a golpes de sorte ou traição.



Indignado
(À memória de Geraldo Luna)

Na mata queimam Ianomamis
e de cobiça, almas assassinas
garimpam sangue e tesouro.
O Deus da raça é o metal louro.

Como pode ser feliz o que mata,
apagando de crianças o riso infantil ?
Quem rasga mulheres à ponta de faca
e a outros da própria espécie dá caça ?

Envergonho-me de ser semelhante,
irmão genético dessa canalha.
Tal qual são os da Candelária.

Ah! homem, estúpido animal,
com que mãos ousa afagar seus filhos
se indelevelmente tintas do macabro ritual ?



Notícia de Berlim
(Para Tânia e Raimundo)

O muro caiu
a golpes de picareta,
mas um pior se arquiteta.

Nas ruas antigas
medra de novo
a utopia ariana

Seus discípulos
tatuam no peito
a cruz suástica

Um exército calvo
de meninos pálidos
violenta a lógica

A acérrima retórica
incendeia a Alemanha
espraiando-se na Europa.

O passado, não importa
se como farsa ou tragédia,
plantou abiótica névoa.

Impotente, o poeta erra
o ritmo, a métrica, a rima
e com lágrimas encerra.



Falando de crianças
(Para Mário, Maria e João)

Falem-me das crianças
que cantam e dançam
inocentes na roda sem patrão.

Falem-me das crianças
que choram com fome,
mas que pensam no amanhã
como uma nova brincadeira.

Falem-me das crianças,
sem raça, sem credo e sem ideologias.
Por favor, falem-me de crianças.



Abra a porta
(Para Larissa, Márcia e Lauro)

Amigo, abra a porta...
venha para a rua,
onde pulsa a vida.

Venha ver passar
o cortejo das ancas
de fardas e tranças,

Venha aspirar
o perfume picante
do cio das moças.

Venha ouvir,
prometendo segredo,
o causo do dia.

Venha sentar na praça,
jogar dominó,
pegar um sol.

Venha tomar uma pinga
comendo torresmo,
no bar da esquina.

Vamos às putas,
ao cais do porto,
qualquer lugar.

Amigo, abra a porta...
não me tranque aqui fora
sem o esteio da sua mão.



À sombra
(Para Zé Ricardo)

Estes versos, filhos da noite escura,
contaminados do negrume de quando concebidos,
clamam por luz e alegrias diurnas.
Pela alegria da algazarra infantil, na praça
onde aposentados jogam dominó na sobra de árvore frondosa.
Praça, arvores, sombra, que tenho na lembrança;
de uma cidade que, não sei onde, não existe mais.

Mas é noite e é escuro e tenho sono e preguiça.
Gatos miam no terreno baldio, ao lado da minha casa,
onde, talvez, um dia, contrariando o inevitável,
não se levante um prédio, outra muralha,
mas uma praça, com arvores e sombras,
onde eu possa reunir-me aos velhos do bairro
para um jogo de dominó, ao som de gargalhadas.



Eu, Narciso
(Para Lídice)

O espelho, águas calmas, guarda,
doce, a imagem refletida,
e o segredo do amor que me consagro.

Voluptuosamente abraço-me líquido,
concrecionando-me onde meus braços estendo.

Somente eu posso amar-me absolutamente
e dedicar-me completa exclusividade.

Quem, senão eu,
pode permear meus mais íntimos anseios
sem quedar-se em melancólica perplexidade ?

Minha voz é música de divina sonoridade,
para ouvi-la os pássaros silenciam
e, na cascata, a água adquire imobilidade.

Sou feliz no bastar-me infinitamente,
amando o que guardo em cada ruga do rosto :
sou velho, jovem e eterno
enquanto houver humanidade.



Filosofia do poeta louco
(Para Mário Cravo Neto)

Onde tudo é mistério,
saber é errar a sério,
e sábio é quem sabe o sabor
do conhecimento estéril.

O caminho é alheamento,
é alho, sal, alimento,
é poder não contar tempo,
nem lamentar sentimentos.

Tudo é um, dois, mil.
Tudo é eterno e flui
permeando as dimensões
do concreto e do abstrato.

Um não é um somente,
um é também semente
onde medram as vertentes
de um novo anedotário.

Um é Deus.
Tudo é Deus.
Tudo é um
comendo o outro.

"Tudo é perigoso
Tudo é divino e maravilhoso"
Deus é perigoso,
Deus é divino e maravilhoso.

Deus não é par ou ímpar
e mora no olho do gato.
Deus é ateu, é à toa,
é coisa, não coisa e é chato.

Meço o sol com os pés,
ouço estrelas como Bilac;
preciso comprar um fraque
para ir pregar no parque.



Pecado
( Para Lucinha)

Pé no pó da terra erma,
o poeta errante rompe,
sem sede, sede ou fome,
( pois a dor que o consome
é pouso, pão e sustenta ),
vales, campinas e montes;
até que a noite escureça.

Busca no norte e no oeste,
busca no sul, busca no leste,
e, ampliando os horizontes,
busca nas funduras da terra,
no espaço, nas ilusões que sidera,
o nirvana, onde espera estar
o fim das aflições da espécie.

À beira dum regato manso,
deita o corpo, agora lasso,
e lança o olhar ao espaço
para ver se nas estrelas,
nas lembranças da infância,
no infinito que alcança,
distingue o destino que almeja.

Assim entendo a peleja
a que estamos condenados :
da racionalidade é o fado
que ilumina e enlouquece,
pois, pensar é o único pecado
exclusivamente humano.
Cerro os olhos. Cai o pano.



Habitação
(Para Sol e Pedro)

Na nesga que há
entre a mata e o mar
fez seu lar.

Varas, atadas com cipó,
untas com barro e suor
sustêm o teto de palha
que ao vento flauta
a sinfonia oceânica.

Tem a pele curtida,
idade indefinida
entre os 20 e os cem.

Dizem-no louco;
vejo-o poeta;
chamam-me tolo.

A hipótese que habita,
no oceano dos sonhos,
permanece sólida.

O sol lhe concedo
com termostato mental,
que lhe curta a pele humana
sem que lhe seja mortal.



Lisérgico
(Para Nono e Dita)

Indolor, na algazarra junina,
meu corpo arde na fogueira da festa :
sou a lenha, o fogo, fumaça,
cinzas e brasas...
É, agora, úmida pedra
o que era em chamas...
e logo sou doce líquido,
leite e o lodo do leito e rio...
Gargalhando sou cachoeiras,
vertigem, vida e morte.
Faço-me em ondas, mar,
salgada espuma
e sou a areia da praia.
Sou o barco,
a rede, o peixe, o pescador,
seu sonho e sua lanterna.
Sou a palha do coqueiro,
sou fruto, vento
e a mulher que espera.
Sou cisco nos olhos
e o olho que olha pelo calidoscópio.
Sou o que canta
e o som de bilhões de bocas,
tantas famintas.
Sou o beijo,
a cópula em milhões de alcovas,
o gozo, o fracasso.
Indistinto de mim, sou quem, sereno,
me observa quando alado transluzo-me celeste.
Sou todo o espaço que há e tudo que o ocupa...
Sou o infinito, o eterno, o onde não há o tempo.
Sou planeta, estrelas, galáxias, Deus, O diabo.
Sou o inverbalizavel,
lisérgico passageiro nesta viagem mágica.



Fevereiro
(Para Lota)

No Natal
não me encanto,
ensimesmo-me.

Não festejo
a alvorada
do primeiro
de janeiro;
espero o frevo,
fevereiro;
só então
meu calendário
novo ano revela
e revelo-me inteiro.



Ao meu pai

Lendo, relendo teus livros
(tantos sonhos revelados),
compreendo o sentido
do que sofrias calado.

Vendo, revendo tuas fotos
(os sorrisos tão velados),
apreendo nos teus olhos
um pesar dissimulado.

Já dez anos me separam
do dia que te levaram
para a fria sepultura,

mas a tua morte, triste,
não amornou o ardor
que, de ti, em mim existe.



Desterrado
( Para Eduardo e Drika)

O mar, pai distante, ouço ainda.
O cheiro da espuma salgada,
não obstante as leis naturais,
tenho impregnado nas narinas.

Em paulista terra desterrado
cumpre-se hoje a minha sina,
vivendo, como em nau imaginária,
num quarto de hotel em Campinas.

Mas não me queixo da sorte,
esta imprevisível amiga,
nem da imponderabilidade da vida.

Viver é como navegar sem rumo...
e ser feliz é enfrentar o mar
e na tempestade não perder o prumo.



Moto-contínuo
(Para Kátia Drummond, poeta)

Somente o amor, essa semente
plantada inocente na infância,
brotará; apesar da circunstância
de dor tão funda e tão recente.

A luz, quase quasar, que flama
seus olhos, sua alma, sua poesia,
será farol às sendas da alegria
e alento àquele que lhe ama.

Na vida, é perdendo que se cria
a têmpera, para o dia inevitável
em que será nossa a despedida.

Então, viveremos na lembrança
de quem legamos a esperança
de novas alvoradas às crianças.



Anseios
(Para Mina)

Ansiava a concisão dos poetas;
dizer num só verso o indizível,
terçar ritmo-métrica-rima;
João-Cabral-de-Melo-Neto-ser.

Ansiava a pureza dos santos;
fazer da vida um exemplo,
combater moinhos-de-vento;
Ser-Betinho-irmão-de-Henfil.

Ansiava ter o cristal na voz,
como Djavan-Caetano-Gal;
não tenho ritmo e fumo demais.

Ansiava ser grande como Ghandi.
Ansiava tanto, que de tanto ansiar
não sou, sequer, o que em mim há.



Homenagens
(Para Van, Bianca e Marcelo)

1.

Sou Carlos, mas não
Drummond de Andrade;
nem é por acanhamento
que escrevo poesias.

Quando nasci não houve
um anjo, ainda que torto,
que me viesse dizer
na vida o que vir a ser.

Nunca gostei de estudar,
à escola só ia na marra.
Gostava era de farra.

Assim despreparado,
de poeta sou esboço,
e meus versos, esforço.

2.

Bandeira, Manuel,
poeta modernista,
pernambucano-do-Recife,
"Farto do lirismo comedido"
exilou-se em Pasárgada
onde, amigo-do-rei,
dorme profundamente.

Eu, baiano de Salvador,
pseudopoeta-pós-previgente
(seja-lá-que-merda-for-isso),
não tendo do que me fartar,
nem sonho onde abrigar-me,
furtando versos e rimas,
rendo-lhe essa homenagem.

3.

Na Tamburello, que não é reta nem curva
em sua geometria dúbia,
morreu Ayrton Senna da Silva,
símbolo dos anseios dum povo débil.

Foi o Silva que deu certo,
contrariando a sina dos Silvas comuns.

Milhões viram, ao vivo pela TV, o choque fatal;
mil vezes reprisado como se fosse ficção.

Como se, ao rebobinar o tape, fosse possível
corrigir o rumo, frear o carro, abstrair o muro.


4.

No bale da bola sou goleiro.
Antípoda à graça do jogo,
minha meta é evitar o gol,
calar o grito da galera.

Antítese do artilheiro,
uso as mão no jogo dos pés.
Intocável na pequena área,
lá sou rei e prisioneiro.

Quando vibro estou solitário;
a festa é do companheiro
que vazou o adversário.

Se o resultado nos é adverso,
sou da derrota o culpado.
Nas vitórias sou mutuário.



Microgramas
(Para Danielle e Eneida)

Santo no andor
com cheiro de alecrim.
Sexta da paixão

Ela é uma flor.
Eu, beija-flor, beijo-a
e vôo alegre.

O cio das moças
exala perfume raro
como flor em cacto.

No acroamático
aerófono há mágica
de canoro pássaro.

Ascendo as sendas
das verdes colinas mágicas
do ádito púrpuro.

Vem, borboleta,
colorir minha infância
de sonhos leves.

Teu azul profundo,
nos olhos de cristal tímido,
cintila o mundo

Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.

Na órbita mágica
da translação, o sol faz
e desfaz verão.

Flor de sangue, fogo
coral, dos campos de Java,
que Shiva fecunda.

Flor da paixão, dádiva
divina, maracujá,
nascido na cruz.

Navegantes lusos
desafiando oráculos
geraram mulatos

À cravo&canela,
mares nunca navegados,
fez-se um império.

Arvore brasil,
se plantando tudo dá,
roubam-nos ainda.

Bahia, meu cântico
te dou tão dessemelhante
do que aqui há.

Cavalo alvo
do carrossel alado :
enlevo raro.

Cavalo azul
do carrossel quebrado :
brinquedo errado.

Cavalo dourado
do carrossel celeste :
um sonho caro.

Cinco, sete, cinco :
é a métrica exata
do poema mínimo.

Sofre a palavra
se lhe mudam o sentido
em pobre metáfora.

Quando de palavras
o poeta se embriaga,
o verso estraga.

Trapos coloridos
no varal dependurados
despem meus sentidos.

Na máscara feia
do príncipe encantado
um sonho dourado.



Paisagens
(Para Armindo J. C. Bião)

Primeira paisagem
Há um cheiro de pólvora no ar.
Cor : vermelha
Movimento : o absurdo
1a Cena : Um peito sangra
2a Cena : A boca da arma fuma
3a Cena : O sangue escorre
e se mistura ao pó progresso
da calçada, asfalto.
Poema :
Forma vermelha abstrata.
Nova plasticidade
Arte moderna das esquinas.

Segunda paisagem
Cor : verde, de todos os tons.
Odor : do mato verde, flores, frutos maduros.
Movimento : o do vento.
1a Cena : o mato verde
movimentado pelo vento.
2a Cena : um homem dorme
ao pé duma árvore frondosa.
3a Cena : um pau-de-arara
leva bóia-frias pra senzala.
Poema :
Raízes pelos olhos
Tronco pela boca elástica.


Terceira paisagem :
Cor : chumbo
Odor : cof... cof... horrível.
Movimento : caos.
1a Cena : Automóveis
luzem buzinam azucrinam.
2a Cena : Chaminés
esfumam o espaço.
3a Cena : Prédios
de vidro e aço.
Poema :
Asma, bronquite, cansaço.
Quem pode com o progresso?

Quarta paisagem :
Odor : sal e argaços
Cor : azul da cor do mar.
Movimento : ondas e marés.
1a Cena : barco velas brancas.
2a Cena : um afogado submerge.
3a Cena : um peixe pende na ponta da vara.
Poema :
Marinheiro, pescador,
Dorival, o teu cantor.



Ao pó voltarás
(Para Bruno)

Inicia-te nos mistérios.
Oculto é o que está exposto,
de tal forma evidente,
que cos olhos não se vê.

Deves, porém, aprender tudo
onde não há o tempo (que passa)
e a distância é uma impossibilidade.

Faz leve, calma, tua alma.
Despoja-te de todo preconceito.
No vazio está a revelação.

Transcender é trilhar o caminho.
Mudando o que deve ser mudado,
"lembra-te homem, de que és pó
e ao pó voltarás ".



À Matemática
(Para Francisco Aírton)

Matemática, mãe solteira
da Ciência e da Filosofia,
sou o inculto que adora
sua lei de perfeita simetria.

Mas, por qual insondável mistério,
como a não bastar o testemunho
que de ti dou a todos, todo dia,
me persegues com regras frias ?

Vejo-te em cada flor, em toda forma.
Advinho-te até onde impera o caos,
e no imprevisível salto dum animal.

Não é justo, portanto, que me exijas
que estude teoremas, trigonometria.
Contenta-te que te louve em poesia.



Integridade
(Para Ruthinha, amiga virtual)

Vivo está quem ama a vida
e luta até a última chama.
Se é dura a dor, reclama;
mas suporta a sua mordida.

Nossa sina até o traspasso
é trilhar caminho árduo,
onde não cabe recuo,
nem se perdoa o fracasso.

Entretanto, é sempre fugaz
tudo a que nos apegamos
e sofremos se nos enganamos
sentindo-nos como imortais.

Do que somos, só importa
chegar íntegros à última porta.


Poemas marinhos
(Para Wandinha)


1.

É noite... é dia... é noite...
todo dia é assim :
gira a terra em torno do sol
e o mar engendra sonhos em mim.

É lua... é sol... é lua...
e só da lua vejo a transformação :
crescente, cheia, minguante.
lua nova, nova situação :
clareando o breu da noite
brilham estrelas na solidão.


2.

Sou, em minha individualidade,
a humanidade inteira.
Abscôndito no meu âmago
ressoa o grito primordial.
Minhas horas,
fazem-nas o mar,
cheias de vazio e solidão.
Não acalanto qualquer esperança :
só há vida se há ação.
Só vivo se há tempestades,
só na angústia há liberdade.


3.

Navegante de todos os mares,
embriago-me de luz e rum;
minha bússola é um coração ferido,
minha rota não toca porto nenhum.
Quando em terra, afogo e bamboleio
que o desequilíbrio é em mim.
Quando há sol, peço chuva;
quando chove, acho ruim.
Só a tempestade me acalma,
tenho medo vendo-a distante,
quando chega, lava-me a alma.


4.

Mar : metáfora.
A vida condensa-se
de onde vem.

Naveguei tempestades
e calmarias,
paixões e alegrias,
nos versos que não fiz.

Nos que fiz,
não me quis.




pesquisar nas horas e horas e meias