quinta-feira, setembro 11

setembro 11, 2011. 07:15

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John acordou cansado. Fora outra noite mal dormida incomodado com a luz perpétua. Tudo começou, ele se lembra bem, a exatos dez anos quando um grupo terrorista seqüestrou alguns aviões, atirando um sobre o Pentágono e outros dois contra as torres do Wold Trade Center, que ruíram sepultando milhares de pessoas. Nunca, até aquele dia, o Estados Unidos da América havia sofrido tamanha afronta. Nem mesmo o ataque Japonês a Pearl Harbor, naquele sete de dezembro de 1941 que ficou conhecido como “O Dia da Infâmia”, causara tamanha comoção.

John se adaptou rapidamente com as câmaras instaladas em cada cômodo do seu apartamento. Nunca sequer ouvira falar de George Orwell. É bem verdade que sofreu prisão de ventre durante a primeira semana. Sentava-se no vaso sanitário, tentava abstrair a presença da câmara, mas não conseguia defecar. Nada de extraordinário, esta sua reação é normal, disse-lhe o médico prescrevendo um laxante, logo você há de se habituar. John não precisou de outra caixa do medicamento.

As câmaras internas e a iluminação perpétua em todos os aposentos habitáveis foram instaladas há cerca de três anos, desde então John não consegue dormir direito. Foram-lhe prescritos soníferos de diferentes origens químicas, mas todos lhe causaram reações adversas mais severas que o incômodo de uma noite mal dormida.

Logo após o atentado terrorista, o mundo livre ocidental se uniu para uma cruzada punitiva contra os indivíduos, grupos e nações responsáveis pela tragédia. John estava entre a grande maioria de cidadãos americanos que apoiava medidas extremas, chegou a defender que artefatos atômicos de baixo teor destrutivo, como aqueles atirados em Hiroshima e Nagasaki, fossem usados sobre os países dominados pelos fundamentalistas islâmicos. Mas os terroristas, dizia-se com razão, após a conquista e ocupação da Ásia e do Oriente Médio, podem estar entre nós. Por isso John apoiou incondicionalmente todas as medidas de segurança desde então adotadas: a instalação de câmaras nas áreas e prédios públicos, o confinamento dos indivíduos de origem árabe, a divisão da população das cidades em guetos étnicos, principalmente por se constatar a grande penetração do credo mulçumano entre a população afro-americana, a proibição da entrada de novos emigrantes, a implantação subcutânea de chips identificadores, a censura aos veículos de comunicação com a reforma da Primeira Emenda da Constituição, que garantia a liberdade de opinião, e mesmo as câmaras domésticas. O único inconveniente, John pensa, mas não diz, é que com a censura ficou sem saber detalhes da grande vitória do bem conta o mal, apesar de que se saiba que os terroristas continuam atuando, espalhando vírus e bactérias, reintroduzindo moléstias terríveis que se supunha extintas e para as quais a humanidade já não dispõe de defesas orgânicas.

De todas as medidas adotadas, John considera como a mais relevante a Reforma Política, que como se sabe suprimiu o pluripartidarismo com a união entre os dois grandes partidos, pois era óbvio que para o maior congraçamento da nação não havia razão para que nos dividíssemos em facções políticas. Outra vantagem desta união era a desnecessidade da realização de eleições, um enorme desperdício de tempo e dinheiro. Desde o final do segundo mandato do Presidente George W. Bush o poder central passou a ser exercido por um colegiado formado por todos os ex-presidentes vivos, que doravante serão substituídos por notáveis da nação quando forem prestar contas ao criador.

John está feliz, não se queixa de nada, apenas tem sono, muito sono. Agora, no banho, ensaboa-se, sorri para a câmara e recobra o ânimo para mais uma jornada de trabalho.



Conto publicado em “Melhor que a encomenda” – Coleção Selo Letras da Bahia – FUNCEB, EGBA – 2006.

Ilustração: wordpress

2 comentários:

Gil de todos os dias disse...

Olá Fred!
Obrigada pela visita! Bem-vindo! =)
Pois é, eu sei que a ausência de comentário não significa ausênsia de visitas, mas não custa fazer um draminha vez ou outra né?! (risos)
Um abraço

Volte sempre!! =)

Fred Matos disse...

Obrigado, Gil.
É claro que a visitarei sempre.
Venha sempre você também.
Beijos

pesquisar nas horas e horas e meias