quarta-feira, outubro 29

abs trato


abstraiamos a distância
todo o universo é um só lugar
tal uma íntima sala sem teto nem paredes
onde todos os vazios são corpos
sedentos de afagos e completude
 
corpos libertos das hipocrisias morais
contudo éticos, porque prontos
para a execução dos seus desígnios.
 
abstraiamos o tempo
passado futuro presente
é um só instante
como o é o instante do orgasmo
quando todos os corpos flutuam
tal qual fantásticos flocos
ocos de culpa e reflexões
 
abstraiamos as diferenças
léxicas sintáticas vocativas
abstraiamos até mesmo as palavras
os idiomas
tudo o que não existe
independente de acepções,
de concretude
 
concriemos um novo corpo
com a conjunção dos nossos corpos
como se conciliam os córregos
para a concepção dos grandes rios
dos oceanos
 
abstraiamos culturas artes filosofias
abstraiamos os preconceitos
abstraiamos tudo o que nos é alheio
abstraiamos os pensamentos
abstraiamos as ideologias
abstraiamos os sentimentos
 
e
sobretudo
o medo.
 
abstraiamos o fogo e o frio
abstraiamos a fome a sede
qualquer outro desejo
que se interponha ao essencial desejo
desta nossa compreensão
 
abstraiamos
se necessário for
o sol a lua as galáxias
e os seus planetas
 
abstraiamos os sonhos
os projetos as fantasias
abstraiamos os poemas
abstraiamos as abstrações
 
façamo-nos um
enquanto dure a eternidade
de um gozo.


Fred Matos

2 comentários:

Anônimo disse...

É abstração demais, absoluta, impossível, mas gostei muito do poema: achei bonito.
Abraços
Mauricio

Fred Matos disse...

Contente que você goste, Mauricio.
Quanto ao excesso de abstração: ela é a regra, não a exceção, na minha poesia, que pretendo obra ficcional.
Obrigado.
Volte sempre.
Abraços

pesquisar nas horas e horas e meias