Clélia,
Recebi sua carta: lhe achei amarga.
Os anos, sei, sim, passam...
que, com eles, passem as mágoas
e, com a sabedoria que nos dão,
não devem mais passar em vão.
Eu, para mim, já não espero nada.
Desliguei o telefone às conversas fiadas.
Os filhos crescem e são
tão parecidos a como éramos:
donos do destino e da razão.
É bom que nem tudo funcione bem.
Eu não me adaptaria bem ao tédio
de uma rotina sem surpresas e zangas.
Aqui a chuva passou e as meninas do prédio
já podem desfilar de tangas.
Pois é, você percebe...
depois de velho o ridículo que sou:
voyeur, pelas frestas e janelas,
dos corpos seminus que vão à praia,
me chamam tio e não me dão trela.
Fred Matos
publicado em "Anomalias".
Editora Kelps
Setembro/2002
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