segunda-feira, outubro 20

advertência

[para Olegario Schmitt ]

os que me lêem precisam
de antemão saber que eu sei
que não sei nada.

não direi absolutamente nada,
mas digo: nada absolutamente.

porque é assim
eu gostaria que entendessem
sempre um talvez implícito,
quando, talvez, não explicitado.

assim é, por exemplo, se afirmo
que isto é um poema
apesar de toda esta prosa
talvez amarrada.

talvez seja, sim, uma prosa,
pois para poema lhe falta o mínimo:
"a fala ritmada".

falta, talvez, o ser conciso.
falta, é certo, juízo,
mas de rimas já ando farto.

falta o metro, que não é mais requisito:
emprestei-o a um mestre-de-obras,
um negro gordo, todo sorriso,
que constrói um prédio aqui ao lado.

mas é, talvez, um poema
porque poema eu o sinto
ou, talvez, porque queira sentir isto
e em o sentindo
seu destino assim o traço.

talvez, se eu não o publicar,
rasgar, jogar no lixo,
não será poema nem prosa:
será ao "pé da letra"
o que, de outra forma,
metaforicamente será,
talvez, considerado.

mas é, talvez, um poema
porque é disto que me ocupo
quando estou desocupado,
ou quando, talvez, para mim
nada faça mais sentido
que manipular palavras,
meu elo, talvez, com o divino,
que, talvez, exceto nelas
e no amor
eu não acredito em nada.


Fred Matos



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