quarta-feira, outubro 15

cangalha


não sei quem é o autor da foto


jamais me perguntei
porque tenho apascentado esta manada
cujos olhos perfuram meus silêncios.

gostava que não me apertassem o pescoço
nem que me exigissem manter limpos
os meus sapatos de mármore.

mas nunca, jamais, nenhum pio.

caminho ereto e sorridente como um asno
cuja felicidade é a ausência da cangalha.

contudo, tenho intimamente gritado
que todos os meus sonhos se diluem
como a neblina após a alvorada.

mas não.

estão todos surdos
nunca serei ouvido
exceto na opacidade dos meus olhos
cobertos de musgos.


Fred Matos

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