quinta-feira, outubro 9

mergulho



ilustração: Fred Matos


para Malmal


o que eu venho tentando lhes dizer
digo-o a mim todos os dias
com a serenidade de um silêncio agudo
que vibra a tênue mas resistente fibra
que tece a invisível malha da vida

cada um humano é um lago de águas turvas
que o vento da circunstância fere a superfície
sua face mais visível e inconstante
onde bóiam as paixões ligeiras
e navegam os dramas que nos aflige

é preciso descer ao fundo
além de onde a luz permite
onde tudo é absoluta calma
ao lodo denso que retém a alma
substância rica de que se nutre

só após este mergulho se compreende
que a força provem da massa escura
formada pelo acúmulo das experiências
que submergem na nossa inconsciência
quando, à nos olharmos, olhamos para o mundo

restabelecido o perfeito equilíbrio
das partes todas de que somos feitos
nada mais há que nos transtorne
e o lago volta a ser o espelho
onde Narciso se admira e morre.


Fred Matos.



2 comentários:

M. Nunes disse...

Fred, gostei muito dos seus poemas. Sabe bem parar em cada um e subir pelos versos e palavras e descê-los - e por fim ficar com a doçura e com a serenidade que transmitem.

Maria

Fred Matos disse...

Fico muito contente por você gostar, Maria.
Agradeço a visita, leitura e comentário.
Beijos

pesquisar nas horas e horas e meias