quinta-feira, outubro 9

poetas de outras horas – Cruz e Sousa


ilustração: foto de Mário Cravo Neto


Sorriso interior



O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranqüila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!



João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados foi criado, como o filho que não tinham, pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, sendo educado na melhor escola secundária da região, porém, com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.
Vítima do racismo, sofreu perseguições, entre elas a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central.
Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.

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