segunda-feira, outubro 6

poetas de outras horas - Mário Quintana


ilustração: Mário Quintana
Não sei quem fotografou


Poema da gare de Astapovo


O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!







Gaúcho de Alegrete, Mário Quintana nasceu em 30 de julho de 1906 e morreu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre. Traduziu Balzac, Proust, Maupassant e outros autores importantes. Seu primeiro livro de poemas, “A Rua dos Cataventos” foi lançado em 1940. Depois vieram “Canções (1946)”, “Sapato Florido” e “O Batalhão de Letras” em 1948; “O aprendiz de Feiticeiro (1950)”, “Espelho Mágico (1951)”. “Caderno H” em 1973, livro no qual estão uma seleção do seus pensamentos sobre poesia e literatura, escritos desde os anos 40. “Quintanares” e “Apontamentos de História Sobrenatural” em 1976, “A Vaca e o Hipogrifo” em 1977, “Prosa e Verso” em 1978, “Baú de Espantos” em 1986 e “Preparativos de Viagem” em 1987, além de varias antologias.

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