ilustração: Yang Xueguo
Em 17 de fevereiro de 1600
Giordano Bruno ardeu na fogueira
por “verdades” na qual poucos acreditavam
Quatro séculos se passaram
mas há ainda quem crê
em “verdades” absolutas
Fui à cozinha e encontrei
um copo meio cheio, meio vazio
e me lembrei da canção de Gil
e que o copo vazio
está cheio de ar
E para qualquer lugar que eu olho
vejo “verdades” que outros não vêem:
um gato com asas
peixes que falam
deuses que dançam
E se abro os olhos
vejo um céu laranja sorrindo
o sol tomando cola-cola
tiroteio no pátio da escola
professores pedindo esmola
Mas falemos de coisas sérias
falemos de futebol
de mulheres frutas
da falta que nos faz
farinha com rapadura
Quatro séculos se passaram
desde que Giordano Bruno
queimou no Campo dei Fiori
mas os donos da “verdade”
empunham ainda as suas tochas
Não tenho dúvida que estou louco
escrever versos é um forte indício
Digo coisas que outros não dizem
mas me expulsaram do hospício
por ver coisas que eles não vêem
Mas falemos de coisas sérias.
Fred Matos
27/11/2008
"Ainda que isso seja verdade, não quero crê-lo;
porque não é possível que esse infinito possa ser compreendido pela minha cabeça,
nem digerido pelo meu estômago..."
Búrquio, num diálogo de Giordano Bruno,
em"... do infinito, do universo e dos mundos", 1584
“Talvez vocês, meus juízes,
pronunciem esta sentença contra mim
com maior medo que o meu em recebê-la."
Giordano Bruno
Em 17 de fevereiro de 1600
Giordano Bruno ardeu na fogueira
por “verdades” na qual poucos acreditavam
Quatro séculos se passaram
mas há ainda quem crê
em “verdades” absolutas
Fui à cozinha e encontrei
um copo meio cheio, meio vazio
e me lembrei da canção de Gil
e que o copo vazio
está cheio de ar
E para qualquer lugar que eu olho
vejo “verdades” que outros não vêem:
um gato com asas
peixes que falam
deuses que dançam
E se abro os olhos
vejo um céu laranja sorrindo
o sol tomando cola-cola
tiroteio no pátio da escola
professores pedindo esmola
Mas falemos de coisas sérias
falemos de futebol
de mulheres frutas
da falta que nos faz
farinha com rapadura
Quatro séculos se passaram
desde que Giordano Bruno
queimou no Campo dei Fiori
mas os donos da “verdade”
empunham ainda as suas tochas
Não tenho dúvida que estou louco
escrever versos é um forte indício
Digo coisas que outros não dizem
mas me expulsaram do hospício
por ver coisas que eles não vêem
Mas falemos de coisas sérias.
Fred Matos
27/11/2008
8 comentários:
E o que mudou no mundo desde Giordano Bruno?!
Fundamentalmente, acho que apenas os métodos de execução e que a intolerância encontrou mecanismos mais sutis para se impor, para impor a “verdade” circunstancial.
Obrigado pela leitura e sobretudo pela pergunta que veio mesmo a calhar.
Grande abraço.
Mudaram outras coisas, poeta: agora temos coca-cola, as mulheres frutas nuas nas revistas masculinas e o céu laranja no seu poema, entre outras coisas não tão importantes.
Beijocas
Pois é, querida. Grandes mudanças (risos). Você está no Brasil?
Saudades. Apareça mais vezes.
Beijão.
Fred
Tem sido um desafio para mim ler o que você escreve. Sorrio. Não entendo. Gosto. Algumas trechos me tocam.
Hoje pensei sobre a loucura. E me questionava. Estaria eu louca também? Quais são as minhas verdades? Onde estão as verdades que eram verdades? O que é certo e errado para mim? Estarei perdida em mim mesma? E sem resposta, escrevo, sinto, penso, reflito, vivo....
Muito bom ler esse antes de dormir. O pior tormento e a maior intolerância é a que exercermos em nós mesmos.
abraços
Paula,
Evito a tentação de responder às suas questões, porque há conclusões a que devemos chegar sozinhos e a minha influência poderia ser prejudicial. Por outro lado, fico contente se as coisas que escrevo servem para fazer você pensar. Obrigado.
Abraços
"EVOLUÇÃO
No universo não há absolutos.
Há evolução,
mutação e transformação.
Pelo tempo e pelo espaço.
E nenhuma existência é igual
porque o tempo não se repete
nem o espaço é o mesmo."
in Metafísica [Poética]
meu Amigo,
obrigado por este enorme poema.
até nos lembra que o tempo não é à escala humana. Embora os que vivem fora dos hospício estejam convencidos que o é
Eu que agradeço, Vicente, pela visita, leitura, poema e generosidade do comentário.
Grande abraço.
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