às vítimas da estupidez humana
não sei quem é o autor da foto
meu menino gostava de flores
e de feijoada
bebia cerveja fumava sorria
e me contava seu sucesso
a cada nova namorada
meu menino gostava de livros
lia lia lia
até quando os olhos cansavam
e me dizia das fantasias
que povoavam suas madrugadas
meu menino foi recrutado
para morrer pela pátria
ficava bonito de farda
sapato brilhante
camisa engomada
meu menino me escreveu uma carta
mais bonita que a mais bela poesia
está na sala emoldurada
ao lado da fotografia
de quando recebeu sua medalha
meu menino era valente
como os heróis que admirava
mas ele não sabia
que diferente do que lia
a guerra é um livro que mata
não dorme mais acesa
a lâmpada da varanda
nem o meu ouvido atento
ao trinco da porta
a cama do meu menino está vazia
arrumada, lençóis trocados
perfumados com lavanda
como se ele pudesse voltar
ainda
para alegrar minha velhice
com gargalhadas
roncando
tranqüilizar meu sono
mas não acendo mais
a lâmpada da varanda
e tudo o que escuto
é saudade
Fred Matos
10 comentários:
Poxa!
Que triste, me lembrei do filme Hair.
Bjão no coração.
Beijão, Lick
Ainda que triste é belo.
Um imenso feixe de luz violeta pra você Fred.
Abraços da amiga Elis
Obrigado, Elis.
Obviamente não sou mãe, muito menos mãe de um soldado que tenha morrido na guerra, mas cabe ao poeta dar voz a qualquer personagem, real ou imaginário. É uma pena que poucos entendem isso como você e lêem poesia como se se tratasse de um texto autobiográfico.
Obrigado, amiga, pela visita, leitura e comentário.
Beijos.
Sua resposta a Elis me lembrou da Nota Preliminar de Fernando Pessoa , nas Ficções do Interlúdio, onde se reunem os poemas dos heterônimos Alberto Caeiros, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, Lá está escrito:
"Negar-me o direito de fazer isto seria o mesmo que negar a Shakespeare o direito de dar expressão à alma de Lady Macbeth, com o fundamento de que ele, poeta, nem era mulher, nem, que se saiba, histero-epilético, ou de lhe atribuir uma tendência alucinatória e uma ambição que não recua perante o crime".
Maurício,
Conheço este texto, concordo com ele e é assim que é a minha poesia, na qual evidentemente há a minha visão de mundo, sentimentos e pensamentos meus, mas, também, uma imensa dose de ficção, coisa que me permite colocar na primeira pessoa, sentimentos e pensamentos que não são meus e são, às vezes, opostos aos meus.
Fico sempre contente quando surge a oportunidade de esclarecer isso, porque é muito comum que os leitores acreditem que a poesia é retrato, realidade de sentimentos e pensamentos do poeta. Pode ser às vezes, muitas vezes não é.
Obrigado.
Abraços
da soleira de todas as memórias
.
.
.
saudade
saudade.
______
obrigado!
...também por me poder conhecer mais além mar.
maré
Fico muito alegre com a sua vinda, Maré.
Obrigado pela leitura e comentário.
Beijos
É belo também, como tudo que você faz.
“Todos os moços, quando chegam à idade do amar e de poetar, associam à idéia do amor à idéia da morte.”
Olavo Bilac
Mil bjs.
Mas eu ainda sou um garotinho (risos)
Beijão
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