terça-feira, novembro 25

o pi ponto fim inicial


ilustração: Ken Brilliant


nasceu um raio de lã azoto
no meu canteiro de sauros
pássaros sinceramente sós
sósias asnos miscigenados
anjos juninos azedos dois
duendes grãos entorpecidos
também lêem balão ligeiro
sob a substância anterior
razoável a liga lógica rica

ouvi um prato de mágua
lívida tímida tépida ríspida
& masquei uma mesa seca
pra afogar a sede rasa ou não
que rastejou no pé do saco
colombinas combinam mas
duas ruas punham mamões
miosótis sótãos cisternas nas
órbitas subterrâneas do pão

risquei um ramo de hojes
julgo amanhecer um branco
fumei um silêncio cinzento
& uma cadeira de nuvens
deitou no mastro astuto
quando são culto anacoluto
lutou um braço de panos
no oceano sub sal sideral
louco como o mulá limão

vinha do hemisfério fetal
um granito tinto e roto
macio como uma dúvida
ardido qual orvalho velho
pé compactuando parado
com o adão da fúria rara
foram todos transtornados
repenique quinze zerados
desde o pi ponto fim inicial.


Fred Matos




11 comentários:

Paula Barros disse...

Lendo e relendo. De forma humilde reconheço a minha incapacidade para tecer qualquer comentário digno da sua escrita e do seu pensar.



abraços

Anônimo disse...

sensorial & sensacional!

parabéns, fred!

Anônimo disse...

Gostei!

Explica tudo.

Bjs

Eu

Anônimo disse...

alucinante penetrante
uivo escaldante
errepio
releio
absorvo a beleza
do seu quadro impressionista
impressionante

Rounds disse...

meu caro,

obrigado pela visita e pelo link.
é bom passar por aqui. gosto de sua poesia, dos videos - temos gostos em comum - e as fotos são muito legais.
vou linkar o seu também.

abs

Fred Matos disse...

Paula,

Humildemente agradeço o seu esforço de compreensão. Acredito que não há nada de errado com a sua capacidade de entender, talvez se trate apenas de uma questão de linguagens, ou, talvez, você para entender precisasse primeiro fazer o esforço de não entender. Estou sendo confuso? Façamos uma analogia: eu não entendo quase nada em nenhum outro idioma que não seja este nosso, e, no entanto, ouço, e até canto às vezes, músicas em inglês, francês, italiano etc. Eu não estou entendendo o que “diz” a letra (e muitas vezes fico decepcionado se e quando leio a tradução), mas a linguagem da música...
Isso, porém, é só uma possibilidade de leitura. Outra possibilidade está vinculada a uma concepção, talvez um pouco mais complexa, que tem a ver com a sensação de estranhamento (esta que você sentiu) que se pode causar ao cérebro através do “deslocamento”, da “substituição”, da “quebra de paradigmas”. É um exercício interessante.
Como é necessário encerrar em algum momento esta resposta, considere também a hipótese de que eu sou louco, ou que tenho surtos nos quais acredito que se possa sentar sobre um cigarro para ler uma nuvem fumando um gato.
Seu comentário me deixou contente pela possibilidade de deixar aqui estas observações.
Espero que você volte sempre.

Beijos.

Fred Matos disse...

Obrigado, Camila.
Beijos

Fred Matos disse...

Beijão, Lick.

Fred Matos disse...

Um quadro impressionista é uma boa analogia, Iosif.
Obrigado, querido.
Abração

Fred Matos disse...

Eu que te agradeço, Tarcísio.
Grande abraço

Anônimo disse...

Fred, eu te desejo um Novo Ano maravilhoso!
Acho que sou egoísta em desejar também, que tu escrevas bastante, para que eu possa andar por aqui e por outros lugares, te encontrando e te lendo.E eu te desejo isso mesmo, mas sobretudo te desejo amor e felicidade.

Beijos.

Amanhecer
Floresce, na orilha da campina,
esguio ipê
de copa metálica e esterlina.
Das mil corolas,
saem vespas,abelhas e besouros,
polvilhados de ouro,
a enxamear no leste,onde vão pousando
nas piritas que piscam nas ladeiras,
e no riso das acácias amarelas.
Dos charcos frios
sobem a caçá-los redes longas,
lentas e rasgadas de neblina.
Nuvens deslizam,despetaladas,
e altas, altas,
garças brancas planam.
Dançam fadas alvas,
cantam almas aladas,
na taça ampla,
na prata lavada,
na jarra clara da manhã...

João Guimarães Rosa

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