quarta-feira, dezembro 10

exercício esdrúxulo


ilustração: Salvador Dali 
mujer con cabeza del rosas


querendo cantar poema sólido,
mínima retórica e nítida temática,
procurei perenes palavras mágicas,
sílabas ancípites e estética própria.

desejando deificada poética lúcida,
com rimas ricas e métrica clássica,
sobracei, sôfrego, signos soando líquidos,
pérolas plásticas de sonoridade acústica.

melancólico, porém, maturei-o hermético,
elidindo a silepse em silogismo erístico,
erigindo fátuo, falso ser enigmático.

falta-me, é fato, tutela teórica e prática
para lograr em versos veículo lógico
que o abstrato transluza em telúrico.


Fred Matos
publicado em “Eu, Meu Outro”
Editora Poesia Diária
Maio/1999


3 comentários:

Bee-a disse...

Fred, achei esse poema divertido! vc parece brincar com as estruturas e paradgimas da tradição poética. Não sei se era essa a sua intenção, mas assim que percebi. Gostei!

Fred Matos disse...

Além do lado lúdico, que me parece evidente, este poema é mesmo um exercício, e um exercício esdrúxulo, como diz o título. Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Beijo

Maurício disse...

Não entendo como um soneto deste passa com apenas um comentário. É obra-prima, meu caro.
Parabéns

pesquisar nas horas e horas e meias