segunda-feira, janeiro 19
uma noite, um livro
ilustração: "At the Waterfron" - Jan Saudek
tomei o último gole
como se toma purgante e esqueci...
não. não foi esquecimento.
deixei sobre a mesa o livro
aberto na página 63
a gorjeta sob o cinzeiro
queimando outro cigarro
alvo
o guardanapo sobre o prato sujo
moscas
moscas
moscas
tantas
infinitas moscas
caminhei lentamente
sob a chuva forte
com pose de humphrey bogart
sem chapéu
não. no ar não havia acordes de jazz
nem névoa
só água.
sob a marquise do cine jandaia
uma puta mostrou-me a bunda
sorri
sorri
sorri
tanto
quase à gargalhada
pulei uma poça
inutilmente, é claro,
porque o sapato estava ainda mais encharcado
que a calça a camisa a roupa de baixo
e o maço de cigarros.
não. não havia mendigo na esquina
apertei a moeda na palma da mão
dobrei desci a ladeira do taboão
desci
desci
desci
assobiei uma canção
e pensei que fiz besteira
deixando o livro que nem lera
a rua do pilar é um rio de mijo
passei voando
parei no mercado do ouro
um rabo-de-galo no balcão
tomei um táxi pra ribeira
em casa as crianças dormiam
a patroa fingia
e sobre a mesa quem diria
aberto na página 63
o livro que não lera
li
li
li
e escrevi esta besteira.
fred matos
19/01/2009
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8 comentários:
legal. muito bom o poema.
abs
Obrigado, Tarcísio.
Abração.
Besteira muito boa! ;))
Adorei esse poema, o ritmo, o desfecho, enfim, ele todo. Muito bom. Bj.
Fico contente que você tenha gostado, ma...de soeur
Beijos
Me deixa muito contente o seu comentário, Adriana.
Obrigado.
Beijos
Quem dera soubesse fazer
poema tão besta assim
Quem dera coragem pra dizer
Todas as besteiras de mim...
Sempre bom! As vezes mais!
Bjos
A beleza da sua quadra contradiz o que ela diz, Elis.
Obrigado.
Beijos
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