sexta-feira, fevereiro 27

conto africano de fadas




era uma vez uma princesa
que perdeu
o medo de se perder
caiu na estrada
foi estuprada
relaxou gozou
gerou uma boneca de louça
e teria ficado solteira
se não tivesse encontrado
um príncipe encarnado
vindo do oriente
que é lugar diferente
de todos os conhecidos
neste reino sisudo
em que fomos criados.

o príncipe trouxe um palácio
nas corcovas de mil camelos
trouxe um oceano nos olhos
palmeiras nos cabelos
nas mãos trouxe jardins
para as mulheres jóias e flores
às moças contava segredos
aos rapazes bravatas
prometeu ao rei um reino
que seria o mundo inteiro
e não caberia no mapa
e que em troca só queria
a princesa e a boneca
a que chamava Calunga
e venerava como a uma deusa.

mas o rei
desconfiado
da lábia do forasteiro
convocou reunião
do conselho dos feiticeiros
na qual ficou decidido
conceder a mão da princesa
mas negar a Calunga
pois concluíram
que se o príncipe a venerava
decerto era mais preciosa
que todas as terras do mundo
que o mais rico tesouro
que o bezerro de ouro
que adoravam no reino.

naquele dia distante
do céu desceu uma estrela
e dela uma Nação de Calungas
nos ombros de negras lindas
vestidas como rainhas
uma vermelha outra verde
uma branca outra dourada
de todas cores haviam
e todas dançavam contentes
ao som do baque virado
alfaias atabaques bongôs
caixas abes agogôs
e nasceu o maracatu
que se ouve em Pernambuco
e que quase me deixa maluco.



Fred Matos
27/02/2009

6 comentários:

Ana Cecília disse...

Nunca vi o carnaval de Recife. Mas amo a força de sua cultura e o maracatu estava desde a minha infância lá por perto.
Suas palavras e fotos dizem muito desse vibrante colorido. Assim também me emociono sempre. Outro dia foi por causa de um belíssimo programa chamado "Sons da Bahia", que passou no GNT. Demais!
Há esperança para o Brasil, mais por essa nascente inesgotável que vem do povo, do Nordeste em particular, do que por qualquer outra coisa!

Fred Matos disse...

Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário, Cecília.
Eu vi também o "Sons da Bahia" e concordo com tudo que você disse. Apenas acrescentaria o registro da pena que me dá a constatação de que a transformação do carnaval de Salvador em indústria capitaneada pelos blocos de axé vem contribuindo para marginalizar cada vez mais estas outras manifestações culturais (de que a nossa Bahia também é riquíssima) criando a imagem de que o nosso carnaval restringe-se à axé-music com grupos desfilando enclausurados entre cordas e seguranças em uma avenida de camarotes.

Beijo

Cosmunicando disse...

que maravilha de lenda transformada em poema =)
gostei demais
bjos

Anônimo disse...

Que bonito, Fred!
Vontade de conhecer o carnaval de Pernambuco.

Beijo com carinho

Fred Matos disse...

Obrigado, Mercedes, bom que você gostou.
Beijo

Fred Matos disse...

Acho que você adoraria o carnaval de Recife, Pri.
Beijos

pesquisar nas horas e horas e meias