terça-feira, março 31

Depois de Auschwitz


Anne Sexton


Tradução: Priscila Manhães




A ira
negra como um gancho,
me atinge.
Cada dia,
cada Nazi 

fisgava, às 8:00, um bebê
e dourava-o para o café da manhã
em sua frigideira.


E a morte observa com olhar casual
e esgaravata a sujeira sob as unhas.


O homem é perverso,
digo em voz alta.
O homem é uma flor
que deve ser incinerada,
digo em voz alta.
O homem
é um pássaro cheio de lama,
digo em voz alta.


E a morte observa com olhar casual
e coça seu anus.


O homem com seus róseos artelhos,
com seus miraculosos dedos
não é um templo,
mas um casebre,
digo em voz alta.
Que o homem nunca mais erga sua xícara de chá.
Que o homem nunca mais escreva um livro.
Que o homem nunca mais calce seu sapato.
Que o homem nunca mais erga seus olhos,
na noite macia de Julho.
Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca.
Digo essas coisas em voz alta.
Imploro ao Senhor que não ouça.



.

After Auschwitz


Anger, 

as black as a hook, 

overtakes me. 

Each day, 

each Nazi took, at 8:00 A.M., a baby 

and sauteed him for breakfast 

in his frying pan. 


And death looks on with a casual eye 

and picks at the dirt under his fingernail. 


Man is evil,  

I say aloud. 

Man is a flower that should be burnt, 

I say aloud. 

Man 

is a bird full of mud,  

I say aloud. 


And death looks on with a casual eye

and scratches his anus. 


Man with his small pink toes, 

with his miraculous fingers is not a temple  

but an outhouse, 

I say aloud. 

Let man never again raise his teacup. 

Let man never again write a book. 

Let man never again put on his shoe. 

Let man never again raise his eyes, 

on a soft July night. 

Never. Never. Never. Never. Never. 

I say those things aloud. 

I beg the Lord not to hear.

 

 

 

 

10 comentários:

Priscila Manhães disse...

Fred, querido.
Brigada!
Beijão

Fred Matos disse...

Não tem que agradecer, Pri.
É muito bom o poema e ótima a sua tradução, coisa que me deixa muito contente.
Beijão.

Adriana Godoy disse...

NOssa! Que poema mais tenebroso e belo. Uma viagem aos muros frios da morte, Tenho que reapirar. Bj

Anônimo disse...

adorei teu post.

bjosss...

Fred Matos disse...

Fortíssimo, Adriana.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado, Nanda.
Beijos

Cosmunicando disse...

pungente!

Fred Matos disse...

É, sim.
Bom te ver aqui, Mercedes.
Beijos

Maurício disse...

Que o senhor não ouça a ira da Anne Sexton. Ótima tradução.

Fred Matos disse...

Sim, que não ouça.
A Priscila é uma ótima tradutora e poeta.
Obrigado, Maurício.

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