quinta-feira, junho 25

tal qual meu pai – 5ª. parte


não sei quem é o autor da foto

Só tive a minha primeira namorada quando cursei o primeiro ano científico: Lúcia, uma colega de sala. Não a notara nos primeiros dias de aula, mas foi sorteada para formar no meu grupo de estudos. Ofereci-lhe carona após uma reunião do grupo e uma sucessão de eventos felizes, agora irrelevantes, resultaram no início do nosso namoro. Lúcia não entrou na minha vida com um soar de trombetas ou chuva de estrelas, instalou-se mansamente e antes que eu percebesse já a amava loucamente.

Lúcia é “cabeça feita”, sempre disposta à experimentação e às novidades. Este, que talvez tenha sido o motivo pelo qual me conquistou também causou nosso rompimento. Não foi uma namorada do tipo não me toques, tínhamos uma relação muito avançada para aquela época na qual as moças ainda se preocupavam em preservar a virgindade para a noite de núpcias. A nossa primeira relação poderia ter ocorrido mais cedo: eu é que fui lento para avançar o sinal e quando o fiz foi provocado por ela. Cerca de um mês do início do nosso namoro ela me perguntou se eu freqüentava prostitutas, tentei desconversar e, sem meias palavras, como é do seu feitio, ela me disse que não seria mais necessário. Era virgem, mas decidira se me entregar. Isto alimentou ainda mais o meu ciúme doentio. Perguntei se ela não tinha medo de não arranjar casamento se o nosso namoro não desse certo. Ela respondeu que não se casaria com um homem que colocasse o seu hímen como condição, e que isto me incluía.

Entre brigas, geralmente provocadas pelo meu ciúme, e reconciliações, transcorreram quase quatro anos até o nosso rompimento definitivo. Eu entrara para a faculdade, onde efetivamente me conscientizei dos problemas sociais e políticos do país, e ela começara a se relacionar com uma turma que na minha concepção era formada pelo mais desprezível tipo de gente: garotos e garotas ricas que se alienavam entregando-se ao uso de drogas e ao sexo promíscuo. Tivemos bate-bocas acalorados. O que mais a irritava era que eu não a levava a sério quando tentava me convencer de uma ambígua filosofia revolucionária baseada na não violência e em conceitos psicológicos que nem eu nem ela entendíamos direito e cujo resultado seria a redenção da espécie humana.

Hoje eu sei que o movimento hippie não alcançou os objetivos a que se propunha, mas é inegável que criou condições para grandes avanços no campo da sexualidade e creio que também seja a raiz de uma maior preocupação com o meio ambiente. Fazendo um balanço isento, a revolução que Lúcia preconizava conseguiu muito melhores e irreversíveis resultados que aquela na qual me atirei de corpo e alma.



Continua no próximo post

4 comentários:

Rafaela H disse...

Adorei, quero dizer, adoro esta foto. Eu tenho um post em meu fotolog sobre hippie e usei esta mesma foto, é fantastica a energia que m passa.

Abraço !

Fred Matos disse...

É mesmo uma bela foto, Rafaela.
Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Beijos

Unknown disse...

Linda também essa parte onde o foco é o definitivo(?) primeiro amor.

Trancorre normal, como diziam os jovens da época, "entre tapas e beijos", mas foi uma relaçao forte e marcante.

Poucos o tem.

O personagem é privilegiado, pelas decisões e você, Fred pela condução quase lírica do enredo.

Parabéns, mestre"

Beijos

Mirse

Fred Matos disse...

Eu gosto muito desta parte porque mostra as duas grandes correntes que dividia os jovens do meu tempo: uma que abraçou a luta política contra o regime militar, outra mais preocupada com a liberação dos costumes. Eu estive nos dois lados: primeiro na corrente política, depois, convenci-me que a simples mudança do sistema político de nada valeria se antes as pessoas não mudassem a mentalidade. Ainda penso assim.
Obrigado.
Beijos.

pesquisar nas horas e horas e meias