Abaixo trechos de respostas do escultor baiano Mário Cravo Jr., em entrevista a Ariovaldo Matos, publicada na revista VIVERBAHIA, edição 47, julho a setembro de 1979.
Leia a entrevista completa no bog “VIVERBAHIA”
“...o público está sempre relacionando uma escultura livre com uma forma descritiva, literária, de personagem ou personagens. E isso é quase um reflexo histórico”
“Decidi, assim, criar um personagem que fosse, ao mesmo tempo, um Cristo crucificado, um Oxalá, um deus da procriação. Então fiz aquele Cristo...”
“A pura e simples curiosidade para ferir certos cânones de ordem moral ou religiosa, não, isso nunca me preocupou.”
“A Bahia é uma das cidades mais reacionárias do Brasil e isso há 20, 30 anos passados, era ainda pior.”
“Eu fiz uma exposição, essa de que você falou, e coloquei lá um Cristo meio rebelde, em forma de cruz, com o sexo em ereção porque era um personagem fálico.”
“O homem de classe média, da pequena burguesia, vê nisso uma agressão de ordem moral e de ordem religiosa, uma espécie de grito iconoclasta. E o homem do povo só vê a simbologia com seu mecanismo africano, puramente.”
“...um iugoslavo, Ivan Mestrovic. Este homem, de origem humilde, era um pastor croata. Católico, cristão, católico praticante. Muito jovem, demonstrou talento e foi um dos discípulos de Rodin, em Paris. Rodin teve três grandes discípulos que se tornaram famosos: Maillot, Camille Claudel e esse Ivan Mastrovic.”
“Então, o Metropolitan, de Nova Iorque, que nunca houvera feito exposição de artista vivo, fez uma retrospectiva dele, também em 1945.”
“...o profissionalismo começa quando se assume uma responsabilidade social e cultural, o que equivale a uma independência econômica e financeira.”
“Essa senhora tinha uma casa freqüentada por grandes nomes da pintura contemporânea, na época radicados em Nova Iorque. Marcel Duschamps, Max Ernest, enfim uma dezena de pessoas, homens expoentes, europeus que viviam em Nova Iorque.”
“passamos meio ano percorrendo a Europa de carro, visitando museus, galerias, tentando tomar um banho...”
“Foi uma dessas coisas fantásticas que a Fundação Ford faz de vez em quando. Cerca de 26 artistas, desde críticos de arte, músicos, musicólogos, poetas, escultores, chamados a viver em Berlim Ocidental com a suporta intenção de dinamizar a vida cultural da cidade.”
“A maneira com que uma planta abriga o seu núcleo é uma vulva feminina, não tem diferença do ser mulher, maior ou menor. Uma planta pode ter o sensualismo das nádegas de uma mulher.”
“...é muito difícil a um artista que faz uma série de especulações em seu atelier, que não mostra isso sistematicamente ao público, tentar simplificar as coisas. A maioria das pessoas não pode entender e não é educada para isso. E não compete, por sua vez, ao artista, estar martelando questões assim...”
“Há uma tendência muito curiosa de as pessoas exigirem uma espécie de nomenclatura do objeto. É um fenômeno de ordem histórica: “o que significa?”. Pela utilização que as religiões fizeram dos artistas, que os poderosos fizeram dos artistas...”
“É como aquela escultura lá em baixo, defronte do Mercado Modelo, ali, na Rampa. Me perguntam: “que significa?”. Respondi: é qualquer coisa de sensual e aí interpretaram “sensual” por sexual, o que não tem nada a ver.”
As fotos são de Mário Cravo Neto
4 comentários:
Aerista irreverente, inteligente, gostei de verdade. Ele ainda existe?
BeijooO'
Quem existe, Valéria?
A revista, não. Era uma revista de turismo, publicada pela Bahiatursa, órgão oficial do turismo baiano, que durou de 1974 a 1979, e da qual fui um dos editores.
Ariovaldo Matos, o entrevistador, era meu pai, morreu em 1988.
Mário Cravo Jr., o escultor, é vivo e mora em Salvador.
Agradeço-lhe por vir e comentar.
Beijos
uma intrevista otima, realmente.teu pai era fantastico, porque sao mais dificeis as perguntas que as respostas. Bem esta é minha opiniao!
que bom que a colocou aqui!Gostei imensamente, e sabe me lembrou um pouco meu irmao, que è tao irreverente como mario Cravo!!!!
parabens pelo post, e tantos beijos e saudades.
sabe tem mais coisas no blog de meu irmao ...se tiver tempo, logico...
Para você e para o Iosif sempre se dá um jeito de arranjar um tempo, Myra. Claro que vou lá, hoje ainda.
Obrigado.
Beijos
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