ilustração: Degas "Femme nue étendue"
nos guardados da casa
arqueologia miúda
de um passado recente.
cartas, velhos cadernos
pejados de poemas, sonhos, projetos.
uma pétala seca de rosa, talvez, ou de açucena.
uma declaração de amor eterno
infinitamente mais breve
que o papel que a promessa encerra.
assina Lúcia, de cuja feição não me lembro,
sequer das circunstâncias da paixão
que a carta testemunha.
documentos, traças, pó de papel, mofo...
de que me serve guardar
a Certidão de Óbito do meu pai?
centenas de fotos esbranquiçadas
o texto juvenil de uma comédia
que nunca será encenada.
nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo.
Fred Matos
Salvador, BA.
02/03/2002
publicado em "Anomalias".
Editora Kelps
Setembro/2002
com o título
"nos guardados da casa"
2 comentários:
na arqueologia miúda
uma imensidão...
imenso é o prazer por receber a sua visita, poeta.
Beijos
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