terça-feira, setembro 30

lero-lero (cinco)



ilustração: "A fortuna", não sei quem é o autor.


Do alto de uma avaliação positiva de 80%, segundo a última pesquisa do IBOP patrocinada pela CNI - Central Nacional da Indústria, Lula assinou ontem o decreto com o cronograma de implantação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no Brasil. O evento foi realizado na ABL - Academia Brasileira de Letras, durante uma sessão solene em homenagem ao centenário da morte do escritor Machado de Assis.

Pausa para dizer que sinto sempre uma sensação esquisita quando leio, ou, no caso, escrevo que a morte de alguém é homenageada.

As mudanças da ortografia entram em vigor, no Brasil, em janeiro de 2009 e a implantação do acordo será feita de forma gradual, com um período de transição até 2012, quando os concursos públicos e vestibulares vão aceitar as duas formas de escrita: a atual e a modificada. Entre as mudanças na escrita estão o fim do trema, mudanças no emprego do hífen, inclusão das letras w, k e y no idioma, além de novas regras de acentuação.

Eu já disse, em outro lero-lero, que não vou esquentar a cabeça com isso, que vou continuar escrevendo exatamente como escrevo, mas não consigo me convencer da necessidade de unificação ortográfica do idioma, exceto para os lucros das editoras que trabalham com dicionários e livros didáticos.

No Brasil, talvez isso ocorra também em outros países, há leis que pegam e leis que não pegam. Esta me parece que não vai pegar. Esperemos pra ver.

Enquanto isso, como os congressistas norte-americanos estão de olho nas eleições que se aproximam, e o eleitorado é contra o pacote que transfere dinheiro dos cofres públicos para salvar a banca irresponsável, as bolsas despencam em todos os cassinos do mundo, e caem os preços das commodities e aumenta a preocupação com a iminência de um longo período de recessão mundial, o que significa desemprego e, para muitos, fome. O fato é que, infelizmente, o mundo real sofre a influencia da má gestão – se não da gestão fraudulenta – que resultou nesta gravíssima crise.

Como não posso simplesmente concordar com a socialização do prejuízo, mas também não acho que se deve deixar que a conta seja paga com o agravamento da miséria universal, creio que o mais justo e humano seria a estatização dos grupos financeiros que não conseguirem cozer com as suas próprias linhas e que os administradores destas casas de tolerância sejam indiciados para que respondam na justiça pelos atos de improbidade que tenham porventura cometido.

Bom dia, galera.

2 comentários:

Bee-a disse...

Fred,

Quanto à reforma ortográfica, quando li sobre ela logo pensei: puxa, temos agora MAIS REGRAS! Tira o hífen daqui mas não tira dali... que pena das crianças recém alfabetizadas, que acabaram de finalmente conseguir acentuar tudo, mas ainda trocam o "s" com o "z" ou "ç" com "ss" - isso não é mudado... apesar de que são crianças e se adaptam rápido.

Quanto à crise americana... nada mais me assusta nesse mundo estranho. Confesso que quando vejo esses números que oscilam, índices que sobem e descem, minha cabeça não processa muito bem o que isso representa. A iminência da recessão, a pobreza estatelada na praça da rodoviária aqui de BH, os chinelos gastos nos pés sujos, as mãos que oferecem o limpador de fogão, as vozes que gritam, o temor, a bolsa segurada mais forte, um trabalho aqui outro acolá, a plena incerteza, tudo isso se revolve dentro de mim e fica apenas uma perplexidade: hã? Não podia ser diferente. Não nesse mundo que fazemos. Mais uma crise que ameaça e pode vingar, mas... quem não poderia prever?

Um beijo pra vc.

Fred Matos disse...

Era previsível, sim, amiga. A lógica do mercado, que é a do lucro a qualquer preço, que é a de criar “necessidades”, sobretudo tecnológicas, para que o consumo do supérfluo realimente a roda e ascenda ainda mais o lucro, a lógica da ambição desenfreada e da cobiça, a da transformação dos seres humanos em peças descartáveis desta engrenagem que chamamos “civilização”, tudo isso, e mais algumas outras mazelas próprias do sistema capitalista selvagem, dito “de mercado”, como, por exemplo, a da irresponsável utilização de recursos naturais não renováveis, tudo isso torna previsível que caminhemos aos trancos e barrancos, entre períodos de abundancia e períodos de penúria. Como nos períodos de abundância não há distribuição das riquezas, que se concentram em poucas e avaras mãos, sobra a conta para os miseráveis, aos quais não cabe, sequer, as migalhas que recolhiam nos dias fartos.
Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Beijos.

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