terça-feira, outubro 14

poema sem faces


para Carlos Drummond de Andrade, em memória

ilustração: Fred Matos

Quando eu nasci, um poeta gauche
desses que vivem na praia,
disse: Vai, Carlos! ser Fred na vida.

Os homens espiam as mulheres
que correm atrás de casamento
O azul talvez não tardasse
houvesse desejos mais nobres.

O ônibus passa cheio de braços:
braços curtos compridos magros
Para que tanto braço, my God,
pergunta meu miolo mole.

Meu coração, porém, não pergunta nada.

A mulher atrás do homem de bigode
é risonha, complexa e frágil.
Fala pelos cotovelos.
Tem muitas amigas fáceis
o homem da mulher de bigode.

My God, por que te abanas
se sabes que já é outono
se sabes do frio no meu peito.

Catre, catre, estreito catre
se eu me chamasse Fernando
não seria rima, seria solução.

Catre, catre, estreito catre
aprisionas o meu coração.

Eu devia te dizer
mas essa luz
mas essa cachaça
botam a gente
embriagado como os anjos.



Fred Matos
Julho de 2002



2 comentários:

L. Rafael Nolli disse...

Olá, um trabalho bacana com um poema muito difícil de se mexer. Criativa a sua releitura!

Fred Matos disse...

Obrigado, Rafael.
Visitei o "manufatura" e o "Stalingrado III", gostei das coisas que li.
Abraços

pesquisar nas horas e horas e meias