sexta-feira, outubro 3

poetas de outras horas - Torquato Neto


Cogito



eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desaferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim





Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de Novembro de 1944. Estudou em Salvador no mesmo colégio que Gilberto Gil, de quem se tornou amigo. Em 1962 foi cursar jornalismo no Rio de Janeiro. Não concluiu o curso, mas, mesmo sem diploma, exerceu a profissão em diversos jornais cariocas.
Quando Gil e os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia foram para o Rio, Torquato uniu-se à turma que criaria o movimento tropicalista. É ele que está sentado ao lado de Gal Costa na capa do LP “Tropicália ou Panis er Circenses”, disco que ilustra este post e traz duas composições suas: “Mamãe Coragem” e “Geléia Geral”, que é citada como “o verdadeiro manifesto tropicalista”.
Em 10 de novembro de 1972, um dia após completar 28 anos, Torquato ligou o gás do banheiro e suicidou-se.
Deixou um bilhete: " Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar"



2 comentários:

Anônimo disse...

De novo a passar por aqui.Embora já tarde, visitá-lo é sempre reconfortante pelos poemas que partilha connosco e pelas intervenções solidárias. Da minha parte um obrigada. 'Cogito' é um belo poema.É também uma tarefa que frequentemente nos ocupa, embora muitas vezes não consigamos perceber aquilo que nos é pedido. Por mim, parafraseava o autor «eu sou como eu sou» «e vivo tranquilamente todas as horas do fim» e do princípio, da criação.
um abraço.

Fred Matos disse...

Deixa-me muito contente que me visite e por comentar. Obrigado, Maria.
Abraços

pesquisar nas horas e horas e meias