sábado, novembro 8

camila


Foto: Fred Matos

o que há de ser é chuva
é água lambendo a terra
é lama vedando caminhos
é limo na pedra molhada

na vidraça embaçada
camila é uma sombra
não sonha com olhos de ver

cansada de tudo já não tem frio
a última lágrima faz muito secou
ainda na boca o travo do vinho
camila não pensa o passado

azulcíssimo o olhar perdido vazio
não sabe das mãos
inventando outros caminhos

tecendo um invisível fio
de uma meada não coisa
tornada aqui em peixe
em pássaros que não voam

flores eternamente viçosas
mares impossíveis céus
inolvidáveis auroras

mãos ágeis automáticas
mãos crispadas máquinas
mãos autônomas exatas
tecendo sóis olhos azuis

tecendo escarlate relva
imaculada vidraça tecendo
onde camila criança sorri

quando a chuva cessar
quando os grãos germinarem
quando brotarem gerânios
nas floreiras da sua janela

trarei pão e promessas
trarei lume e alento
trarei os sonhos que roubei

as mãos máquinas cansadas
serão mãos para carinhos
enquanto durem os suprimentos
enquanto o inverno não venha

enquanto nossos exaustos corpos
não se amoldarem à terra
e aos astros nossos olhos.


Fred Matos


2 comentários:

Maurício disse...

Apesar da imagem um tanto batida das mãos ágeis que são máquinas, gostei deste poema.
Abraços
Maurício

Fred Matos disse...

Agradeço a visita, leitura e comentário, Maurício, reconhecendo que você tem razão: é uma imagem já usada, mas me pareceu a mais exata no contexto do poema.
Grande abraço.

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