quarta-feira, novembro 19

deslegado - Frô


Foto: Luiz Fonseca


Maria Oliveira (Frô) ©

Não pedi essa vida meu Deus!
Viver de rima, ritmo, som.
Isso não é dádiva,
é castigo, cruz, látego diário.

Assoprar, arranhar, alisar
os rasgos de palavras,
idéias perdidas em lacunas de vida.
Buscar ternura planeada em cada canto,
Ah! Qual nada! Ludibriada existo,
entalando oração sem santo.

Queria mesmo era crescer
marceneiro, pedreiro, ajudante de obras.
Cavar buraco, metro a metro,
levantar alicerce, cobrir com teto
a alma, o corpo e o gozo dos amantes.

Sentir o saibo do prato concreto
de feijão e arroz na mesa esquadrinhada.
Deixar pra depois a angústia habitual,
e a invariável bebedeira d’alma.

Sina vagabunda essa,
que não organiza gavetas,
mas arquiva dores,
que perde o sono em busca de sílaba,
sibila amor pelos poros, esquece das horas
e envelhece atrás da obra-capital.

Não inveje tais seres, são todos poucos
de razão, feitos de coração oco
ossos flexíveis, matéria de paixão.
Os entulhos da emoção desestorvam
pra desfadiga de quem os alcança.

Mas não se engane com fala mansa,
letras-lanças de mudanças, insurreição.
Todo poeta desfabrica o mundo,
que assiste, sempre da janela,
pra driblar o que cala o coração.



Frô é pseudônimo de Maria da Conceição Carneiro Oliveira, santista, mãe da Marina, educadora, colecionadora de prêmios jabutis com coleções de livros didáticos de história. Atuou na área de ensino público e privado, lecionando história e também em cursos de formação de professores. Desenvolveu uma série de trabalhos na Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, no Departamento de Patrimônio Histórico, realizando congressos, exposições, seminários e materiais educativos de suporte diversos, voltados para as escolas da rede pública e privada sobre o patrimônio histórico da cidade de São Paulo, durante a gestão da Prefeita Luisa Erundina.
Em sua vida acadêmica participou de vários projetos de pesquisa na área de História Social, especialmente ligados à história da escravidão no Brasil. Alguns desses trabalhos foram publicados sob a coordenação de seus professores-pesquisadores. Apesar de escrever desde menina, por mais de vinte anos abandonou a literatura. Retomou a escrita, participando de diversas listas literárias na rede, escrevendo ensaios, contos, crônicas e poesias, publicados em Antologias (RJ e Jundiaí), diversos sites na Internet e jornais impressos


2 comentários:

Ler o Mundo História disse...

Obrigada, Fred, vc sempre me fazendo carinho
beijossssssssssssss

Fred Matos disse...

Você merece, querida.
Beijos, pra Marina também.

pesquisar nas horas e horas e meias