sábado, novembro 22

mortalha


ilustração: Letícia Sabatella
em Memorial do Convento


adequada pra qualquer ocasião,
teci, fio a fio, essa mortalha,
moldada para ocultar a falha
onde medra a dor da solidão.

encoberto, dos pés à cabeça,
pus na cara um sorriso alegre,
onde da alma nada se revele,
e do íntimo nada se esclareça.

uma a uma, maquiando cicatrizes,
passo os dias, um a um, atarefado,
ensaiando gestos ajustados
à pantomima vácua dos felizes.



Fred Matos
publicado em "Eu, Meu Outro"
Editora Poesia Diária
Maio/1999

2 comentários:

líria porto disse...

ol� fred - primeiro para agradecer-te a visita ao meu blog -segundo pra te dizer que este teu rico espa�o me agrada!

mortalha transportou-me a versos antigos:

est�ril
l�ria porto

a sua fonte secou
ela pede um copo d'�gua
n�o h� um pingo de orvalho
vida poeira essa vida

n�o h� flores no jardim
suas palavras murcharam-se
enrugou-se-lhe a alma
o riso se evaporou

plantara tanta ilus�o
os sonhos se desfolharam
j� chorou todas as l�grimas
pobre seus olhos ardem

reclama um pouco de tudo
e s� lhe resta a mortalha
embrulhada no cantinho
da prateleira do nada

*
grande abra�o!

Fred Matos disse...

Líria,
Seu espaço é riquíssimo e também a sua poesia. Sinto-me, portanto, honrado pela sua visita, pela sua leitura e, sobretudo, pelo seu comentário e poema.
Beijos.

pesquisar nas horas e horas e meias