segunda-feira, janeiro 12

dividido


ilustração: Salvador Dali - Chastity 



dividido
entre o homem e o poeta
um que é bicho outro profeta
um que sonha outro razão,
um que pena outro tesão,
um íntegro outro canalha

sigo a sina no fio da navalha
e entre eles ergo a muralha
que Cronos me deu por punição

ao poeta toca as noites,
sábados domingos feriados

ao homem os dias ocupados
na labuta pelo pão

ao humano cabe o pecado,
ao poeta só cabe ilusão



Fred Matos
publicado em "Anomalias".
Editora Kelps
Setembro/2002


5 comentários:

Bruna Mitrano disse...

O entrelugar, não no sentido convencional do termo, mas no que eu quis dar agora.
Boa combinação surgiria de pecado e ilusão, acho eu.

Fred Matos disse...

Bruna,
um dos defeitos deste poema é este tal de pecado. pecado é apenas um conceito. não sei onde estava com a cabeça, mas não sou de jogar filho fora, se der vou melhorando, lapidando, e, talvez um dia encontre uma solução melhor.

Hercília Fernandes disse...

Olá Fred.

Compreendo perfeitamente o "peso" dessa "fragmentação"...

Viver entre "coisas-sérias" e "não-sérias" - parafraseando Huizinga - não é lá fácil.

Mas, sejamos otimistas.

Quem sabe um dia se conceberá a arte não apenas como diversão, mas como atividade necessária, bem maior da humanidade, do "homo ludens" (?!).

Sejamos otimistas, e brinquemos a ciranda da vida!...

Abraços,

H.F.

Fred Matos disse...

A fragmentação, contudo, é necessária, Hercília, ainda que pelo menos para ser matéria prima da arte.
Obrigado pela leitura e comentário.
Abraços

Hercília Fernandes disse...

Sim, Fred...

Ela é necessária para que se possa afirmá-la, negá-la... haver senso e contra-senso. Multiplicar opiniões.

Muito bem pensando.

Abraços poeta.

H.F.

pesquisar nas horas e horas e meias