sábado, fevereiro 7

Lídice





Tenho uma prima, quase da minha idade, cujo nome é Lídice, foi a minha primeira paixão, mas isso é um outro assunto. O assunto agora, para cumprir o desafio de Gustavo Perez, do blog
Papagaio Mudo, é contar a história de Lídice, uma pequena aldeia tcheca, com cerca de 450 habitantes, que foi completamente destruída pelos nazistas em junho de 1942.

Mas, antes de contar a história, devo esclarecer que o desafio do Gustavo resume-se a:

1. Escolher o nome da cidade, atual ou da antiguidade, cujo nome ache o mais bonito entre todos os nomes de cidade que você conhece.
2. Postar uma foto dessa cidade
3. Escrever algo, ou alguma referencia sobre a cidade escolhida.
4. Indicar três pessoas para fazerem a mesma coisa.

Minhas três vítimas são:


1. A
MÉLIA PAIS 

2.
IOSIF LANDAU 

 3.
LUÍSA 



Agora voltemos a Lídice e a sua triste história, aqui contada com o luxuoso auxílio de São Google e trechos recortados e colados de alguns textos alusivos ao fato.

Situada na bacia carbonífera de Kladno, Lídice era uma pequena aldeia sem nenhuma importância estratégica, mas entrou para a história ao tornar-se vítima de um dos mais infames atos da Segunda Guerra Mundial.

Em 29 de maio de 1942, Reinhard Heydrich, chefe de Segurança do III Reich, que pessoalmente assumira o protetorado da Boêmia e da Morávia, para acabar com a resistência por parte dos tchecos, sofreu um atentado a bomba, vindo a falecer em 4 de junho.

Heydrich era uma figura macabra. Oficial da Marinha alemã, expulso por conduta imoral, ingressou na Gestapo e se tornou o segundo homem da organização, logo abaixo de Himmler. Odiado e temido pelos próprios nazistas, deles recebeu o apelido de Heydrich, o Verdugo.

Os tchecos, traídos pelos ingleses e pelos franceses em 1938, perderam o seu território, mas nunca se submeteram aos alemães. Em 1941, quando Konstantin von Neurath revelou-se incapaz de reprimir as manifestações dos patriotas tchecos, Heydrich conseguiu substituí-lo no Protetorado da Boêmia e da Morávia. Os horrores que ali cometeu e o terror que infundiu às pessoas lhe valeram novo apelido: o Carniceiro de Praga.

O resultado da sua crueldade foi o recrudescimento da resistência tcheca
e dois patriotas, Jan Kubis e Josef Gabeik, refugiados na Grã-Bretanha, desceram de pára-quedas perto de Praga, naquele 29 de maio, para cometer o atentado. Equipados pelos britânicos, conseguiram fugir sob a proteção de uma cortina de fumaça e se esconderam na Igreja de São Carlos Boromeu, em Praga, cujos padres davam refúgio a todos os perseguidos pelo nazismo.


A Gestapo, para vingar a morte de Heydrich, excedeu-se na selvageria. Segundo um dos relatórios da organização, apreendido pelos aliados ao término da guerra, 1331 tchecos, que nada tinham a ver com o atentado, foram imediatamente fuzilados. A Igreja de São Carlos Borromeu foi cercada, e as 120 pessoas que lá haviam se refugiado, foram massacradas. A Gestapo, por trágica ironia, ignorava que os dois matadores de Heydrich estavam entre elas.

As represálias não cessaram aí. Mas de tudo o que aconteceu naqueles dias, a civilização guarda com horror a violência praticada contra Lídice, com o falso argumento de que ali estavam escondidos Jan Kubis e Josef Gabeik.

Mal rompera o dia, em 9 de junho, Lídice foi cercada por um contingente comandado pelo capitão Max Rostock. Todos os habitantes - homens, mulheres e crianças - foram trancados nos celeiros de uma pequena fazenda. Ninguém podia deixar a aldeia, mas foi permitido o retorno dos que já tinham saído naquela manhã. Quando os nazistas chegaram, um menino assustou-se e correu. Uma velha desesperada tentou escapar pelos campos. Os dois foram abatidos com tiros nas costas.

No dia seguinte, começaram os fuzilamentos. Todos os homens, maiores de 18 anos - no total de 172 - foram executados e as mulheres deportadas para campos de concentração. Dezenove homens, que estavam trabalhando nas minas de Kladno, e sete mulheres que estavam fora da aldeia na ocasião, foram depois conduzidos a Praga, para serem mortos.

Havia quatro mulheres grávidas em Lídice. Levadas para uma maternidade em Praga, os bebês foram mortos ao nascer, e elas encaminhadas para o campo de extermínio de Ravensbrueck, para onde já tinham sido enviadas as outras mulheres da aldeia.

Das crianças só escaparam as que possuíam as supostas características arianas (olhos azuis, cabelos louros, crânio dolicocéfalo). Foram entregues a famílias alemãs, para serem criadas como verdadeiros alemães.

Liquidada a população, os nazistas incendiaram a aldeia e depois dinamitaram as
ruínas para que não restasse pedra sobre pedra e chegaram ao cúmulo de desviar o curso do rio que passava ao lado da aldeia.. Terminada a guerra, o governo tcheco reconstruiu Lídice como monumento nacional. Mineiros de todo mundo contribuíram para um memorial, cuja parte maior é constituída por um canteiro de rosas vermelhas.

Dezessete crianças, das que foram levadas pelos alemães, puderam ser localizadas depois da guerra. Elas e mais as mulheres que conseguiram sobreviver ao extermínio nos campos de concentração voltaram para a nova Lídice, onde permaneceram como testemunhas da bestialidade nazista.

Para homenagear as vítimas a antiga Santo Antônio do Capivari, situada no quilômetros 50 da RJ-155 e da ferrovia que liga Angra dos Reis ao Sul do estado de Minas Gerais, trocou o nome para Lídice, em 1944, e abriga sinais dessa história, como a estátua de uma Fênix -- a mitológica ave que renasce das cinzas -- na praça central. No seu Centro Cultural há marionetes tradicionais da República Tcheca, quadros e exposições sobre o país do Leste Europeu.


Ps: Gostei tanto do texto da Alice Salles para Los Angeles, a cidade que ela escolheu, que resolví editar este post para colocar o link do trabalho dela:

http://ilumine.thedharmabum.org/2009/02/o-nome-da-cidade-cujo-nome-ache-o-mais.html

8 comentários:

Alice Salles disse...

Que história triste mas que nome belíssimo... Ainda bem que a cidade não morreu de todo e que alguns de seus filhos puderam retornar a ela... Lindo post!

Fred Matos disse...

Assim como no Brasil, em outros países cidades mudaram o nome para Lídice, ainda durante a guerra, pois o objetivo dos nazistas era de riscar a cidade do mapa, e nasceram Lídices no mundo inteiro. É uma história triste, sim, mas é também uma história de superação.
Obrigado, Alice, pela visita, leitura e comentário.
Beijos

Anônimo disse...

também gostei bastante desse post, fred.
o lugar, embora tenha sido alvo de um terror absoluto, parece muito bonito,

beijão.

Fred Matos disse...

Camila,
Eu acho que a Alice se desincumbiu muito melhor que eu da tarefa, o texto dela para Los Angeles é um poema em prosa de altíssimo calibre. Eu cheguei a pensar em fazer algo parecido (claro que não creio que pudesse atingir a excelência do texto da Alice), mas, como tinha que escolher pela beleza (na minha opinião) do nome da cidade, a própria escolha me obrigou a contar a sua triste história.
Obrigado pela leitura e gentileza do comentário.
Beijão

Anônimo disse...

me lembro bem desse brutalidade lida no noticiário, eu já estava no Rio e tinha 19 anos, a lista dos horrores alemãs( não distingo nazista de alemão, o povo alemão inteiro é culpado)é interminável, muito e nem tudo foi revelado até hoje,li teu texto e chorei de tristeza e de ódio
abraço

Fred Matos disse...

Iosif,
Do meu ponto de vista, a humanidade inteira foi violentada, mas é obvio que há vítimas, aquelas que sentiram a brutalidade da pele, por exemplo, cujo sofrimento foi indizível, outros que perderam parentes e amigos em episódios como os de Lídice e dos campos de extermínio. De todas as pessoas que conheço você é a vítima mais direta e por isso sinto imensa dificuldade em rebater a sua acusação à totalidade de um povo, de uma nação, e não apenas de uma facção política que dominou o estado através do terror e da propaganda.
Grande abraço, amigo querido.

Luísa disse...

Já está!
A cidade escolhida é a cidade que me viu nascer.
obrigada pelo desafio.
Beijinhos

Fred Matos disse...

Obrigado, Luísa
Beijo

pesquisar nas horas e horas e meias