segunda-feira, março 16

cangalha


foto: Mário Cravo Neto


jamais me perguntei
porque tenho apascentado esta manada
cujos olhos perfuram meus silêncios.

gostava que não me apertassem o pescoço
nem que me exigissem manter limpos
os meus sapatos de mármore.

mas nunca, jamais, nenhum pio.

caminho ereto e sorridente como um asno
cuja felicidade é a ausência da cangalha.

contudo, tenho intimamente gritado
que todos os meus sonhos se diluem
como a neblina após a alvorada.

mas não.

estão todos surdos
nunca serei ouvido
exceto na opacidade dos meus olhos
cobertos de musgos.


Fred Matos

30 comentários:

gloria disse...

eu ouço tua poesia e palmilho esse contentamento dos pequenos atos (mesmo que pesem): "cuja felicidade é a ausência da cangalha". Os sonhos fragmentam-se em letras como essa: alvorada de sensibilidae. Sigo te lendo. bjs

Fred Matos disse...

Obrigado, Glória.
Beijos

Adriana Godoy disse...

Fred, que poema mais bonito e intenso. A foto belíssima e muito significativa.

Os últimos versos arrebatam de vez.

"estão todos surdos
nunca serei ouvido
exceto na opacidade dos meus olhos
cobertos de musgos."

Parabéns pela lindeza poema. Bj

PS:Não entrei para receber o selo, pois não me sinto à vontade com isso. Principalmente, quando se tem que seguir regras. Argh! A vida já tem muitas.

Marilia Kubota disse...

Poesia é exercício de paradoxos. Liberdade e angústia. É o que me traz este poema. Canta Bethânia: " a liberdade está na dor."

um beijo

Anita Mendes disse...

um conformismo que desconforma, creio que somos todos assim.
lindo poema e com ele uma realidade bruta e crua para ser digerida.
Saludos pra ti.
Anita.

Graça Pires disse...

Os olhos cobertos de musgo. Os sonhos gritados. A neblina da alvorada.
Um poema muito belo.
Um abraço.

Anônimo disse...

"estão todos surdos
nunca serei ouvido
exceto na opacidade dos meus olhos
cobertos de musgos."



LIndissimo!!!


parabens... e uma ótima semana!

Beijos

Suelyn Morais disse...

Adorei o poema!
Sábias palavras.
Voltarei mais vezes aqui.

BeijoooO

Unknown disse...

"caminho ereto e sorridente como um asno
cuja felicidade é a ausência da cangalha"

Que lindo! é impressionante a sonoridade do poema! Estou aqui indicada pela amiga Hercília, que devo dizer me fez um grande bem.

Parabéns, poeta!

Abraços

Mirze

Fred Matos disse...

É verdade, Adriana, a vida já tem regras demais.
Agradeço-lhe pela leitura e comentário: este é um dos poemas meus que mais gosto.
Beijos

Fred Matos disse...

Gostei da sua definição de poesia, Marilia: "exercício de paradoxos".
Fiquei contente por você me visitar, pela leitura e comentário.
Beijo

Fred Matos disse...

Pois é, Anita, creio que a força deste poema está no paradoxo (para usar a definição de Marilia) entre o conformismo e o grito que o poema expressa.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Saludos.

Fred Matos disse...

Agradeço-lhe Graça, por vir, por ler, por comentar.
Abraços

Fred Matos disse...

Que bom que você gostou, Cáh
Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Ótima semana pra você também.
Beijos

Fred Matos disse...

Espero que volte mesmo, Suelyn.
Agradeço-lhe pela visita, leitura e comentário.
Beijos

Fred Matos disse...

Deixou-me contente a sua visita, leitura e comentário, Mirze.
Obrigado.
Volte sempre.
Abraços

Aline disse...

Nossa...rs gostei! =P

beijos e boa semana!

Fred Matos disse...

Obrigado, Lili.
Ótima semana.
Beijos

Simone Morais disse...

"(...)caminho ereto e sorridente como um asno
cuja felicidade é a ausência da cangalha.(...)"

Que mundo fantástico esse aqui! Parabéns! A passagem citada acima foi a que eu mais gostei...

Beijos!

Fred Matos disse...

Obrigado, Mone.
Espero que volte sempre.
Beijos

Anônimo disse...

Não sei e nào gosto de anlisar poemas. Só sei o que sinto, e uso de adjetivos simplórios para expressar-me.
"Cangalha" é triste mas é forte. Tão poderoso é o poema que faz doer...
Rossana

Mari Amorim disse...

Olá Fred,
Perfeito,como sempre um grande poeta!
Passe lá em casa,e retire o primeiro Selo do blog,em agradecimento ao carinho, e incentivo.
beijos,
Mari

Unknown disse...

"caminho ereto e sorridente como um asno
cuja felicidade é a ausência da cangalha."

Perfeito, como senpre né Fred?!!?
adoreei.

;D

Anônimo disse...

você é poeta e eu sou lixeiro
você é lírico
eu sou grosso
seus sonhos se diluem na neblina depois da alvorada
os meus sonhos se afundaram no lixão
esse meu choro de inveja
é o meu aplauso mais sincero

Beatriz disse...

Não se pergunte...exceto para opacidade
dos musgos

Fred Matos disse...

Sou como você, Rossana, não sei e não gosto de analisar poemas, e geralmente resumo-me a dizer se gosto ou não, ou, na maior parte dos casos, não dizer nada: ler apenas.
Agradeço-lhe a leitura e comentário.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado pelo selo, Mari, logo estará na página.
Beijos

Fred Matos disse...

Fico contente por você gostar, Duanny, pela leitura e comentário.
Beijos

Fred Matos disse...

Bobagem, Iosif, você é grande, meu amigo.
Abração.

Fred Matos disse...

Eu não pergunto Compulsão Diária, apenas agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.

pesquisar nas horas e horas e meias