Está nos jornais e sites da imprensa a notícia de que ontem, dia 09, milhares de pessoas, entre elas o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participaram da chamada Marcha da Maconha, uma manifestação que aconteceu em Ipanema, no Rio de Janeiro, e em outras 250 cidades do mundo para pedir a legalização do uso da erva. No Brasil a maior manifestação aconteceu no Rio de Janeiro, onde cerca de 1.200 pessoas se reuniram a favor da descriminalização do uso da maconha e marcharam pela praia de Ipanema de forma pacífica.
A liberação da maconha voltou a ser assunto de debate no início do ano, depois que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo, que integram a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia propuseram mudanças na política mundial de drogas.
Recentemente uma pesquisa do respeitado International Journal of Drug Policy , realizada na Holanda, Canadá e Estados Unidos, na qual foram ouvidos 5 mil adolescentes entre 14 e 15 anos, concluiu que a severidade da política adotada, com lei criminalizante (usuário considerado criminoso), não reduz o consumo de maconha e derivados.
Na Holanda, onde a venda e consumo de maconha é autorizada nos cafés para maiores de 18 anos e o consumo fora é considerado crime, 29% dos adolescentes e 20% das meninas admitiram uso no ano anterior à sondagem.
No Canadá, onde a política é proibicionista com relação ao consumo, mas sem grande rigor para com o usuário, os porcentuais foram de 32% entre meninos e 31% entre as garotas.
Nos EUA, onde a lei é mais severa, inclusive para os usuários, 33% dos entrevistados do sexo masculino e 26% das entrevistadas do sexo feminino revelaram ter regularmente consumido maconha no ano anterior à pesquisa.
Considerando-se assim que o proibicionismo não inibe o consumo e a descriminalização não o encoraja, impõe-se a questão:
A quem interessa a manutenção da criminalização das drogas?
Aos traficantes, é obvio que interessa, porque a liberação nos moldes holandeses, onde é permitido que em cada residência sejam cultivados de três a cinco vasos de maconha, além da venda legal nos cafés, resultou em afastar o usuário do traficante e em redução da criminalidade associada ao tráfico.
Lembremo-nos da Lei Seca, nos EUA, época de florescimento da máfia naquele país.
Obviamente não estou acusando de associação ao tráfico os que defendem a manutenção da política atual de combate às drogas, porque entre eles há os que são movidos por preceitos morais e/ou religiosos, e os que são contra simplesmente porque não confiam em nenhuma informação que contrarie as suas opiniões cristalizadas.
O assunto é polemico e precisa ser debatido.
Inaceitável não é o debate, nem as manifestações a favor ou contra. Inaceitável é a decisão de alguns tribunais regionais que proibiram a marcha em várias cidades do país por considerá-las "apologia ao uso de drogas ilícitas". De onde me permito concluir que o fim do tráfico não interessa a certos juízes e advogados por motivos que me parecem óbvios.
Fred Matos
26 comentários:
Concordo e assino embaixo. Beijo.
sempre me pergunto p'ra onde vai todo o dinheiro que o tráfico move. pro traficante favelado com certeza não é, no máximo ele fica com a quantia suficiente pra comprar cordões de ouro.
interesses maiores, sim.
ótimo texto!
fred,
temos três questões importantes
que valem ressaltar:
a primeiríssima: o tráfico de drogas movimenta bilhões de dólares
só perde para o tráfico de armas
portanto, interessa a muita gente: dentre eles grandes empresários, grupos políticos articulados com o judiciário e o sistema policial.
os moradores de vilas e favelas são trabalhadores do tráfego e levam uma ínfima parte da dinheirama que circula.
a segunda: a violência. o fato de ser proibitiva a comercialização da maconha, gera um clima de tensão, violência e controle de pontos de venda. o que acaba por ceifar a vida de muitos e muitos, dentre eles adolescentes e crianças. ou seja, a violência mata muito e infinitamente mais do que os efeitos da maconha no organismo - vale ressaltar que uma série de estudos feitos no canadá, na alemanha, na inglaterra vêm demonstrando os efeitos terapêuticos e medicinais da cabanis sativa.
a terceira: os moralistas. são os que sustentam a primeira e colaboram pra continuidade da segunda questão. incapazes que são de entender a própria realidade, compreender a multiplicidade de realidades é algo infinitamente distante de suas precárias visões de mundo.
acho que está na hora de colocarmos uma justa e equilibrada discussão pública
com conteúdo educativo
sobre o tema
e cabe a pergunta:
por que os estados unidos da américa defendem tanto a criminalização da maconha?
(foram eles os artífices da lei proibitiva)
boa discussão meu caro!
abração,
fernando
Obrigado, Adriana.
Beijos
muito bem colocado, Fred.
assim como o comentário do Fernando.
bjs
Pois é, Bruna, pra onde vai a grana? Se soubermos isto saberemos a quem interessa a manutenção do sistema que entrega a comercialização das drogas à marginalidade.
Beijos
É isso, Fernando.
Obrigado por participar com comentário que aprofunda o debate.
Abração.
Obrigado, Mercedes.
Espero que o debate possa conscientizar algumas pessoas que podem influir para a descriminalização da maconha.
É alvissareira, por exemplo, a posição assumida por Fernando Henrique Cardoso.
Beijos
Polêmico o texto Fred. Ao pensar que a descriminalização da droga possa acabar com a operação dos traficantes, é interessante, mas também entra em questão que o Brasil é um país muito grande e de grande ação de bandidos e traficantes, a questão é: Qual será o foco deles então? Será que não aumentaria a violência? E se´rá que estamos seguros e equipados para suportar uma possível "guerra"?
Prity,
O crime também está sujeito às leis de mercado. Obviamente que, se o tráfico de drogas deixar de ser um negócio rentável, é esperado que haja algum deslocamento da “mão-de-obra” empregada no tráfico para outros setores do crime. Creio que é essa a sua preocupação. Porém, considere a hipótese de que alguns se transfiram para atividades lícitas, mas, sobretudo, considere também que aceitar a manutenção do tráfico com este argumento é tal qual aceitar que se deve aceitar todos as demais atividades criminosas.
É útil verificar o que ocorreu nos EUA quando com o fim da Lei Seca a máfia americana se viu privada da imensa receita financeira com a qual subornava policiais, políticos e grande parte do Poder Judiciário.
Sobre a lei seca e os seus efeitos sugiro-lhe ler:
http://stopthedrugwar.org/pt/cronica/563/75_aniversario_revogacao_lei_seca
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/lei_seca
Obvio que a descriminalização não vai acabar com a criminalidade, mas vai contribuir para reduzi-la significativamente porque o tráfico internacional de drogas movimenta algo em torno de US$ 500 bilhões por ano, o que o torna o segundo item do comércio mundial. Privar o crime deste dinheiro é o método mais efetivo para combatê-lo.
Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Beijos
....realmente é deprimente que os interesses estejam sempre voltados para os próprios umbigos. E as desculpas esfarrapa, para não se levar adiante a discussão, são mais deprimentes ainda.
Legal o post Fred. Assino embaixo também.
Boa postagem, Fred!
Posso até ser presa, se algum incauto aqui estiver, mas sou a favor de passeatas, da liberalização da droga, enfim, os responsáveis por usarem qualquer tipo de droga, não são a causa principal da saúde nacional, para onde bilhões são desviados inescrupulosamente.
Em outras palavras: quer morrer usando drogas? Ótimo, diminui o índice populacional, o crime, o tráfico e por conseguinte a violência.
Serei algemada?
Tomara!
Beijos, amigo
Mirse
Agradeço-lhe, Simone.
Beijos
Pois é, Mirse, a nossa legislação antidrogas é tão anacrônica que sempre existe a hipótese de um juiz entender que estamos promovendo “apologia ao uso de drogas”, o que, ao meu ver, implica em contrariar a Constituição, que nos garante o direito à opinião.
Obrigado.
Beijos
O assunto é polémico. Talvez haja muita razão neste artigo bem elaborado.
"apologia ao bom senso"
òtimo texto e fundamentos.
é aquilo, né
: posso não concordar com nada que diz, mas defenderei sempre seu direito de dizê-lo...
a propósito, sou pelos descrimes...
Caramba... é um assunto tão complexo, envolve tanta coisa... Minha cabeça tá fervilhando só em pensar no que isso acarretaria. Mas uma coisa é certa, há muito que se pensar e considerar antes de tomar algum atitude que legalize a droga.
Beijo.
Olá Fred!
Que "assuntozinho" complicado esse hein??? Mas que ótima discussão provocou! Se partissemos simplesmente do princípio do "o que é proibido é mais gostoso", já teríamos parte da solução, não acha?
Estarei acompanhando as opiniões. Trabalho com crianças e jovens expostos a essa "praga". E garanto que mesmo que vendam uma coisinha aqui, outra ali, continuam numa miséria assustadora.
Parabéns pela corajosa abordagem.
Beijos
Lygia
O trafico é contra a legalização. E você?
O assunto é mesmo muito polêmico, rouxinol , mas, salvo a hipótese de que surja um argumento contrário muito forte, eu estou convencido de que a descriminalização do consumo nos moldes da legislação adotada da Holanda, é uma política mais apropriada que a nossa (baseada no modelo dos EUA), para a redução dos crimes associados ao tráfico de drogas, para a saúde pública (pois será possível aferir a qualidade da droga distribuída legalmente), para reduzir substancialmente o dinheiro usado para corromper policiais, membros do poder judiciário e políticos, além de eliminar a hipocrisia de alguns moralistas que condenam publicamente e fazem vistas grossas para o consumo no seu meio social. Isso sem falar que o álcool também é uma droga e ficou provado que a proibição (Lei Seca americana) foi um tiro no pé.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Abraços
Agradeço-lhe, Sra. Urtigão
Volte sempre.
E de tudo, o direito à opinião é o mais importante, Nina.
Obrigado.
Beijos
A descriminalização do uso de drogas é um assunto que vem sendo estudado há muito tempo, Moça do Fio , e que só não se generalizou ainda no mundo todo porque enfrenta o lobby poderoso do governo norte-americano e dos que lucram com a manutenção da legislação atual: traficantes, policiais corruptos, juizes corruptos, políticos corruptos...
Agradeço-lhe pela leitura e comentário.
Beijos
Obrigado, Lygia.
Beijos
Eu sou a favor, garota do copo d'água
Agradeço-lhe pela leitura e comentário.
Beijos
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