terça-feira, maio 5

Luto - Patrícia Clemente


Luto
Patrícia Clemente ©


Ilustração:
Camilla Belle e Elisha Cuthbert, em «The Quiet»




Você me ama mas nunca me disse
No tempo em que eu ainda te queria
Se agora eu me aconchego junto a outro
Me chama fria?

E fez que pelo meio eu me sentisse
Pediu-me mãe mas não tornou-me filha
Se agora ao ser completa me comovo
Me insulta, tia?

Mandou que à sua lente me despisse
Mas não desnuda sua alma à minha
Se vejo em meu espelho que sou ouro,
Me ofende.
Mas como eu poderia?

Diz: velha, fraca, feia, bruxa, puta.
Diz que sou falsa, acusa hipocrisia,
Mas não recuse ao morto amor seu luto
Posso ser tudo, mas por ser Sofia.

Porque o desejo seu me atormenta
Mas seu desejo é só me ver sentida
Se vivo ao sobressaltos seus quereres,
É vida?

E sei que o meu carinho só te tenta
Se nego-te favores, decidida.
E não me entrego à dor dos seus prazeres,
Vencida.



Patrícia Clemente foi um heterônimo do grande poeta e amigo, prematuramente falecido, Marco Aurélio Vieira Pais.
Poema publicado no livro "Submissão", obra prima da moderna poesia brasileira.

9 comentários:

Carmem Dalmazo disse...

Gostei bastante desse poema!...
Muito expressivo!...

Beijo!

coisas que vi e vivi disse...

É pura emoção!...Sem comentários, o poema é completo.
beijos
PS: espero que tenha feito boa viajem e curtido o filhote...
LI

Nanda Botelho disse...

Volte com calma sim!

Obrigada pela visita!

O poema, parece a descrição do que acontece num casamento!

Abraço!

Fred Matos disse...

O Marco foi um ótimo poeta, Carmem.
Obrigado.
Beijos

Fred Matos disse...

Foi uma ótima viagem, Li, e, sim, curtimos muito o filhote, pena que foram poucos dias.
Obrigado.
Beijos.

Fred Matos disse...

Nanda,

A história de Patrícia Clemente, heterônimo do Marco Aurélio Vieira Pais, foi uma das mais curiosas que já testemunhei.
Quando o Marco criou a Patrícia e inscreveu-a no “Fórum do Poesia Diária” todos imaginaram que se tratava de uma pessoa real.
Quando ingressei na lista ela paquerava a Sofia, cuja heterossexualidade não impediu de se apaixonar pela Patrícia.
Revelando-se, afinal, que Patrícia não existia, o Marco e a Sofia tentaram uma relação que não durou muito tempo.
Eu não sei se este poema é anterior ou posterior à revelação, mas observe neste trecho:

”Diz que sou falsa, acusa hipocrisia,
Mas não recuse ao morto amor seu luto
Posso ser tudo, mas por ser Sofia.”

Que o sujeito lírico do poema não é Patrícia, é Sofia.


Agradeço-lhe por vir e comentar.

Beijos

Unknown disse...

Fred,como vai?
Fui aluna e amiga do Marco, muito próxima.
Vc sabe onde ele está?
Daniela

Fred Matos disse...

Só hoje estou vendo o seu comentário, Daniela.
Lamento informar que o Marco faleceu, já faz muitos anos.
Beijos

Unknown disse...

Nossa Fred, quanto tempo demorei para ver sua resposta.
Na verdade, eu já sabia q ele estava longe assim de nós.
Qd te perguntei foi para saber onde ele está enterrado.
Se souber, por favor, me avise.
te envio meu e-mail - danielabfdias@yahoo.com.br
obrigada e abraço

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