ilustração: Jan Saudeck - "An Alcoholic"
os deuses não nos amam, maninha
dê-me outra dose deste teu conhaque
quando estivermos embriagados
caminharemos sobre brasas
olhos no infinito
e poderemos inventar novas fábulas
cavalgar corcéis alados
colorir os astros
chover diamantes
será um belo espetáculo
um belo espetáculo
um espetáculo magnífico
a vida é apenas isso, maninha:
um espetáculo
nada existe que não seja espetáculo
observe, maninha,
o féretro é um espetáculo
e na tv são espetaculares as notícias das tragédias
observe, maninha, como os hipócritas fingem revolta
sorriem cúmplices
e agacham-se solenes para catar migalhas
e milhões
são protagonistas
astros do espetáculo
minhas botas estão furadas, maninha
sinto morrer em mim mais uma vez
o menino que acreditava na realidade
nas virtudes da humanidade
o menino que precisou criar impossibilidades
para se sentir possível
rápido, maninha, dê-me outra dose
os deuses não nos chamaram para o baile
estavam ocupados ouvindo preces
cheirando incenso
rindo dos fieis que queimam velas
dos padres que violam crianças
dos bispos purpúreos e cúpidos
quando estivermos atordoados, maninha,
sairemos de mãos dadas
como quando dançávamos roda
e poderemos inventar cirandas
sonatas
rodas de samba
será bonito de se ver, maninha
mas não deixaremos que nos vejam
estaremos invisíveis
eternamente invisíveis
absolutamente invisíveis
por favor, maninha,
só uma dose,
nada mais
Fred Matos
dê-me outra dose deste teu conhaque
quando estivermos embriagados
caminharemos sobre brasas
olhos no infinito
e poderemos inventar novas fábulas
cavalgar corcéis alados
colorir os astros
chover diamantes
será um belo espetáculo
um belo espetáculo
um espetáculo magnífico
a vida é apenas isso, maninha:
um espetáculo
nada existe que não seja espetáculo
observe, maninha,
o féretro é um espetáculo
e na tv são espetaculares as notícias das tragédias
observe, maninha, como os hipócritas fingem revolta
sorriem cúmplices
e agacham-se solenes para catar migalhas
e milhões
são protagonistas
astros do espetáculo
minhas botas estão furadas, maninha
sinto morrer em mim mais uma vez
o menino que acreditava na realidade
nas virtudes da humanidade
o menino que precisou criar impossibilidades
para se sentir possível
rápido, maninha, dê-me outra dose
os deuses não nos chamaram para o baile
estavam ocupados ouvindo preces
cheirando incenso
rindo dos fieis que queimam velas
dos padres que violam crianças
dos bispos purpúreos e cúpidos
quando estivermos atordoados, maninha,
sairemos de mãos dadas
como quando dançávamos roda
e poderemos inventar cirandas
sonatas
rodas de samba
será bonito de se ver, maninha
mas não deixaremos que nos vejam
estaremos invisíveis
eternamente invisíveis
absolutamente invisíveis
por favor, maninha,
só uma dose,
nada mais
Fred Matos
20 comentários:
os deuses são seres cretinos...
Um grande texto, Fred. Neste, as miudezas ilustram, a bun dan te mente, uma infinidade de paisagens humanas. Afinal, a vida é:
"um grande espetáculo, nada existe que não seja espetáculo"...
Excelente poema. E, a imagem es pan to sa mente bela.
Parabéns, poetíssimo!
Beijos :)
H.F.
Um post belíssimo.
A imagem é incrivelmente linda a intensa, e o poema, como sempre grande em sua essência. Sensivel, profundo, e infinito.
boa semana
=*
Que beleza, Fred!
O sentimento de todos ou quase todos nós, em seus versos.
Destaquei esta parte, que se assemelha a mim:
minhas botas estão furadas, maninha
sinto morrer em mim mais uma vez
o menino que acreditava na realidade
nas virtudes da humanidade
o menino que precisou criar impossibilidades
para se sentir possível
Incrível mesmo, a sua sensibilidade!
Parabéns, poeta!
Beijos
Mirse
massa, hein, fred! eu bem gostava de ser sua maninha-beat. não ia prestar... rs...
Prefiro não julgá-los, Ediney, já que não permitirei que eles me julguem.
Agradeço-lhe por vir, por ler, por comentar.
Grande abraço
Se há algum mérito no poema, Hercília, não mo credite: atribua-o ao conhaque.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos
Que bom que você gostou, garota...
Obrigado.
Ótima semana também pra você.
Beijos
Mirse,
Talvez eu devesse reduzir o poema a este trecho que você selecionou.
Agradeço-lhe a presença, leitura e comentário.
Beijos
Talvez não prestasse mesmo, Nina. Ou talvez prestasse. Não há como se saber. Sei, porém, que fico contente por contar com a sua leitura e comentário.
Beijos
Fred, rapaz...
Que poemaço! Fazia tempo que não lia algo tão encantador na poesia blogosférica: delicado e forte; ingênuo e maduro; colorido e cinza...
PARABÉNS!
Taninha
Fred,
Belíssimo poema, Fred! "Um grande espetáculo"!
Abraços,
Lou
Agradeço-lhe, Taninha, a visita, leitura, comentário e por tornar-se acompanhante do blog.
Beijos
Um grande espetáculo!
Talvez, Lou, este seja um título melhor pra o poema.
Obrigado pela presença, leitura e comentário.
Beijos
meu Amigo,
"(...) a vida é apenas isso, maninha:
um espetáculo
nada existe que não seja espetáculo (...)"
esta dose é plena de sentimento e de sentires pujantes.
fantástico!
Vicente
Bonito de doer, se é que dor pode ser bela...
Mas é isso mesmo: um espetáculo!
Mais uma dose!
bjs Fred
Rossana
Fico contente por vê-lo aqui novamente, Vicente.
Agradeço-lhe pela visita, leitura e comentário.
Grande abraço
Obrigado, Rossana.
Abração
Fred, esse garanto, foi um dos que mais me tocou. Lindaço, misterioso, arte, poesia. Parabéns. Bj
O seu comentário me deixou muito contente, Adriana.
Obrigado.
Ótimo fim de semana
Beijos
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