quarta-feira, outubro 28

de novo


não sei quem é o autor da ilustração



“Como ousais chamar-vos poeta
e, medíocre, chiar como uma codorna?
Hoje
é preciso
como uma clava
fincar-se no crânio do mundo!”

Maiakóvski
em “A nuvem de calças”



façamos o novo de novo

-- pés velozes
neutras mentes brancas --

mas se não der, meu chapa,
lembre-se do mar de alagoas
das ladeiras da lapa
dos botecos de tantos lugares
lembre-se dos becos da bahia.


façamos de novo o novo

-- para que o saber permaneça
sob a pele de nova sintaxe --

mas se não der, pessoa,
lembre-se que a poesia
não deve estar vazia
dos sentimentos humanos
que sem gente não há arte.


o novo, façamos sempre

-- porque a arte é invenção
e o poeta arauto do porvir --

mas se não der, gente boa,
lembre-se que nada há à-toa
que toda criação se apóia
na lápide de uma anterior
e que nem sempre o novo ficou


façamos o novo novamente

-- não o façamos porém
por amor de novidades --

mas se não der, criatura
lembre-se que a vida é dura
lembre-se que quem o procura
procura o belo, a ternura
procura algo que o faça fantasiar


façamos o novo agora

-- atentos porém à história
e à linguagem popular --

mas se não der, caboclo,
lembre-se que a comunicação
é via de mão dupla
e que ao inicial estranhamento
há de haver assimilação.


façamos o novo cotidianamente

-- nada nos impede de inventar palavras
ou de usar as freqüentes em contexto inusitado --

mas se não der, sujeito,
lembre-se que, se a mensagem é o meio,
é o conteúdo que o anima
a transformação que o ilumina
a fecundidade que o eterniza.



Fred Matos

31 comentários:

Cosmunicando disse...

que beleza, Fred!
fincou seu poema no crânio do mundo... façamos do novo algo que construa, mas não necessariamente substitua :)
beijos

Fred Matos disse...

É isso, Mercedes, mas, também, que não seja um novo vácuo.
Agradeço-lhe por vir, ler e comentar.
Beijos

Unknown disse...

Riquíssimo poema, Fred!

Um ritmo frenético, e alusões ao novo linguajar, terminando versos, com: meu chapa, pessoa, gente boa, criatura, cabloco e sujeito.

Fazer o novo do novo baseado no antigo, sim, porém com a ideologia que você deu com maestria!

Muito lindo!

Beijos

Mirse

Wania disse...

Que lindo teus versos Fred, mesclando modos antigos com "novos fazeres"! Poesia rica em todos os sentidos!


E sigamos tentando fazer o novo de novo, mas sem o ranço do velho,...

mas se não der, sujeito,
lembre-se que, se a mensagem é o meio,
é o conteúdo que o anima
a transformação que o ilumina
a fecundidade que o eterniza
.


Gostei muito!
Voltaste inspirado...

Bjs

Clarice Villac disse...

Poema
vibrante de humanidade, esperança, incentivo !

tocante nas imagens,
presente na proximidade !

Parabéns !

:~)

Clarice Villac disse...

Lindos os morcegomangas !

Úrsula Avner disse...

Oi Fred, bonito e cadenciado poema, de temática rica e bem versejada. Façamos o novo agora, pois cada momento é único e especial. Um abraço.

BAR DO BARDO disse...

isso é uma poética toda: "nada nos impede de inventar palavras /
ou de usar as freqüentes em contexto inusitado"

parabéns, poeta!

hfm disse...

Ler-te sempre.

Adriana Godoy disse...

Fred, um dos mais lindos que li, um dos mais comoventes..deixou marcas indeléveis. Beijo.

Lara Amaral disse...

Mensagem completa, perfeita!

Chegou aonde queria.

Beijos.

Fred Matos disse...

Que bom que você gostou, Mirse.
Agradeço-lhe.
Beijos

Fred Matos disse...

"os sentimentos são iguais, mas as paisagens mudam."
Creio nisso, Marcos. Pode-se mudar a maneira de expressar os sentimentos, mas eles são inerentes à nossa espécie e possíveis mudanças são apenas de nuances, nunca capazes de alterar fundamentalmente a gama de sentimentos que nos caracterizam e que são, sempre, matéria-prima para as artes.
Abração

Fred Matos disse...

Obrigado, Wania.
Na verdade ainda não voltei: fico em Salvador até o domingo.
Beijos

Fred Matos disse...

Clarice, Agradeço-lhe a visita, leitura, comentário e por ter-se tornado acompanhante do blog. Tentei visitar os seus e em ambos eu recebi um alerta dizendo que os seus sites contém elementos do site www.kissdesign.net que parece hospedar malwares. Talvez não seja nada sério, ou talvez seja e você não esteja sabendo do risco. Por via das dúvidas não entrei nos seus blogs.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado, Úrsula. Fico contente por você gostar.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado, Henrique. Apesar de correr o risco de ser excessivamente didático no poema, coisa que o descaracterizaria, achei necessário que ficasse claro que não defendo o engessamento da poesia nos moldes da tradição. A minha crítica é contra uma suposta poesia, que ao meu ver nem poesia é, onde a ânsia pelo novo resulta em "peça" que nem com muito esforço de decifração é-se possível entender algo. Já vi coisas muito mais indecifráveis que os balbucios de um bebê e que sequer empolga pelo aspecto gráfico ou pela criação de outros estímulos que poderiam justificar a criação.
Abração

Fred Matos disse...

Também a ti, Helena.
Obrigado, amiga.
Beijos

Fred Matos disse...

Fico contente, Adriana: muito contente.
Obrigado.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado, Lara.
Espero que sim, espero que chegue.
Beijos

Batom e poesias disse...

Assino em baixo, com firma reconhecida, carimbo, todos os documentos necessários e a tampa da margarina premiada.

Lindo!
De novo...

bjs
Rossana

Fred Matos disse...

Obrigado, Rossana. Estou em boa companhia.
Beijos

Talita Prates disse...

Gosto muito do Maiakovski.

E gostei ainda mais do teu poema-lição-tradução-arauto!

façamos o novo de novo
façamos de novo o novo
o novo, façamos sempre
façamos o novo novamente
façamos o novo agora
façamos o novo cotidianamente

: a vida, mesma,
mas inusitadamente
sem repetição,
re-novada.

Bjo, poeta!

Fred Matos disse...

Obrigado, Talita. Gostei da sua síntese e por você gostar.
Beijos

Rounds disse...

mandou ver!

do caralho esse post.

abs

Anônimo disse...

bonito mesmo.
comovente.

porém, pelo que já li daqui...
falta algo nele.
algo que cause ardor na alma.

e a fecundidade nem sempre nos eterniza.

um abracinho querido

Fred Matos disse...

Agradeço pela escolha, Gazeta dos Blogueiros mas quanto a inscrever o blog para concorrer ao The Best GB 2009, ou a qualquer outro concurso, não me levem a mal, mas é coisa que não faz a minha cabeça. Sou avesso a competições.
Obrigado.

Fred Matos disse...

Obrigado, Tarcísio. Deixa-me contente que você tenha gostado.
Grande abraço.

Fred Matos disse...

Achei ótimo o seu comentário, Iza.

Você tem razão, falta ao poema "algo que cause ardor na alma", mas considero natural que seja assim, porque neste poema eu não procurei transmitir "a mensagem" através da emoção, mas através da razão.

Quanto à sua observação de que "a fecundidade nem sempre nos eterniza" teríamos que aprofundar a conversa debatendo qual a acepção que fazemos da palavra "fecundidade", além, é claro, da palavra "eternidade", sendo que esta, levada ao extremo do seu significado, não poderia ser mesmo usada, pois não há nenhuma garantia de eternidade para coisa alguma. Contudo, querida, a poesia é universo da metáfora e é onde são possíveis todas as impossibilidades.

Deixou-me muito contente a sua visita, leitura e comentário.

Beijos

Amar sem sofrer na Adolescência disse...

Lindíssimos poemas encontrei por aqui. Novembro é aniversário do meu blog manual do inseguro.com e durante todo o mês publicarei textos de outros autores. Ficaria muito honrada de contar com sua participação. Posso publicar "De novo" no manual? Estarão assegurados a autoria e o endereço do seu blog. Caso aceite, por favor, confirme enviando-o através do email: stellatavares@yahoo.com.br. Desde já te agradeço pela visita no mundo das histórias mágicas.
Bjs

Fred Matos disse...

Claro Stella, fico honrado pelo convite e agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos

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