domingo, outubro 11

sol rumo ao sono



ilustração: Alessandro Bavari


"sol rumo ao sono, sombras sobre o oceano"

Homero
do Canto 11 da Odisséia

tradução: Augusto e Haroldo de Campos
e Décio Pignatari, via Ezra Pound





quando eu estiver batendo os pinos
com a boca banguela, gordura na pança
das paixões só me restarem lembranças
escreverei os meus versos alexandrinos

mas é preciso antes ter perseverança
para estudar a métrica da idade média
e outras tantas regras que a enciclopédia
informa que tiveram origem na França

não creio porém que seja uma tragédia
abandonar no fim da vida os versos livres
pior será não mais gozar dos dias incríveis
que tornaram a minha vida esta comédia

perdoe-me, Homero, se no dístico o profano:
sol rumo ao sono, sombras sobre o oceano.



Fred Matos
10/10/2009

20 comentários:

Lara Amaral disse...

Fred, tu és o cara. Fico sem comentários ao ler seus versos.
Mas posso dizer, ao menos, que eu os adoro, são lindos.
Beijos, bom feriado!

Fred Matos disse...

Deixa-me muito comovido o seu comentário, Lara. Obrigado.
Ótimo feriado pra você também.
Beijos

Unknown disse...

não tudo bem!
tem alguns selinhos que eu "esqueço" as regras! hauahaus são um saco mesmo ¬¬

mas o selo é seu.

adorei o post, você me surpreende cada vez mais.
;*

Sue disse...

Demais!!

Adorei isso. Inteligente e bem humorado!

bjks

Sue

BAR DO BARDO disse...

Fred, mas o soneto é o que salva a lavoura da poiésis.

Fred Matos disse...

Obrigado, Sue, fico contente por você gostar.
Ótimo feriado
Beijos

Fred Matos disse...

Ainda bem que você não ficou chateada, Duanny.
Fiquei contente por você gostar do soneto.
Obrigado, amiga.
Ótimo feriado
Beijos

Fred Matos disse...

Eu já cometi algumas dezenas de péssimos sonetos, Henrique. Gosto muito da forma, mas uso-a sobretudo como exercício quando percebo que estou ficando mentalmente preguiçoso.
Ótimo feriado.
Abração

Adriana Godoy disse...

Fred, você surpreende sempre. Homero e Pimenta que se cuidem...beijos.

Fred Matos disse...

Qual nada, Adriana: para os mestres tiro o chapéu.
Obrigado, amiga.
Beijos

Wania disse...

Nas horas e horas e meias eu venho aqui te ler...e tu, sempre te superando!
Belo soneto, Fred!
Parabéns!!!

Bj carinhoso pra ti

José Carlos Brandão disse...

Não existem versos livres, Fred. Lembro agora o que disse Graciliano abrindo as Memórias do Cárcere: estamos sempre presos, pela gramática, pela moral e bons costumes... A métrica é o que menos limita o poeta. Veja só este seu poema: quer maior liberdade? A liberdade é a alegria da criação. Que você tem de sobra.

Abraços.

Carla disse...

versos muito bons. obrigada pela visista, gostei de passar por aqui
beijos e boa semana

Eliana Mara Chiossi disse...

Muito tempo sem ter tempo para visitar blogues que gosto!
E entro aqui, agora, para receber este presente.
Bom demais este texto!

Bom feriado!
E este poema vou levar pra uma turma de criação literária.
Com os devidos créditos e endereço do blogue!

Fred Matos disse...

Obrigado, Wania. Deixa-me que venhas nas horas e horas e meias e que vindo goste e comente.
Beijos

Fred Matos disse...

Visto deste ângulo você tem razão, Zé Carlos. A única liberdade absoluta seria optar por escrever ou por não escrever o poema. Ricardo Reis (F.P) disse que

"... só na ilusão da liberdade
A liberdade existe..."
,

porém, o mesmo Fernando Pessoa, no heterônimo Alberto Caeiro, escreveu:

"E há poetas que são artista
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!..."


compreenda portanto que os meus versos livres, ainda que não os possa considerar absolutamente livres, são os versos de um poeta que, por não ser artista, ou por não querer empregar em dado momento os seus conhecimentos de artífice, prefere não trabalhar nos seus versos, como um carpinteiro nas tábuas.

E o poema continua:

" Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma."


Quanto à gramática e a versificação, recorro ao meu mestre Manuel Bandeira, que discorrendo sobre "A poética de Gonçalves Dias" escreveu:

" As regras de Gramática e as de Versificação são coisas excelentes, desde que se ressalve aos mestres o direito de as violar, porque, como disse o Professor Souza da Silveira, "o senso natural dos verdadeiros poetas vale mais que todas as regras, sejam de Versificação, sejam de Gramática!"

Não se pense que estou me considerando um "mestre" ao atribuir-me o direito de violar as referidas regras, trata-se, neste caso, de um apelo ao constitucional direito de igualdade entre os homens (risos).

Para concluir, devo confessar que não contei as sílabas deste poema, nem observei em que sílabas caíram as tônicas, minha única preocupação foi com as rimas.

Contente com a sua visita, leitura e pelo comentário que me deu oportunidade para este bate-papo.

Grande abraço

Fred Matos disse...

Eu que te agradeço, Carla, por vir, por ler e por comentar.
Volte sempre.
Beijos

Fred Matos disse...

Que bom que você encontrou um tempo pra vir aqui, Eliana. Espero que passem a ser mais freqüentes estes momentos livres, e que você volte.
Obrigado por vir, por ler, por comentar e por dar asas ao texto.
Beijos

myra disse...

..infelizmente sombras sobre tudo...hoje em dia...ou sera que sempre foi assim ?:)
outro beijo

Fred Matos disse...

Creio que sempre tenha sido assim, Myra, apesar de que nem sempre tenhamos percepção disso, mas, tanto as sombras, quanto a percepção das sombras, seja parte da nossa condição humana.
Beijos

pesquisar nas horas e horas e meias