domingo, março 7
arqueologia miúda
ilustração: Degas "Femme nue étendue"
nos guardados da casa
arqueologia miúda
de um passado recente.
cartas,
velhos cadernos pejados de poemas,
sonhos,
projetos.
uma pétala seca de rosa,
talvez,
ou de açucena.
uma declaração de amor eterno
infinitamente mais breve
que o papel que a promessa encerra.
assina Lúcia,
de cuja feição não me lembro,
sequer das circunstâncias da paixão
que a carta testemunha.
documentos,
traças,
pó de papel,
mofo...
de que me serve guardar
a Certidão de Óbito do meu pai?
centenas de fotos esbranquiçadas
o texto juvenil de uma comédia
que nunca será encenada.
nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo.
Fred Matos
publicado em "Anomalias".
Editora Kelps
Setembro/2002
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61 comentários:
"nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo".
Fred,
arejar gavetas é tão demasiado, tão dolorido. Às vezes as miudezas gritam por existência, mesmo que nos apresentemos indiferentes às ardências da memória...
Belíssimo poema, poetíssimo. Sua alma é lunar = anima.
Beijos,
H.F.
Ah, Fred...
venho fazer uma reivindicação/protesto: retire a moderação e deixe que, do cão danado que andou lhe incomodando, a gente, seus amigos-leitores, dá conta...
Porém, compreendo a sua postura. É bastante desagradável conviver com certas invasões, também já tive de lidar com isso...
Beijos,
H.F.
Poema e desenho todos formosas obras de artes do desenho e da escrita. Abraço
Pois, eu digo que estou
nessa... de precisar me
desvencilhar de tanta coisa
para poder, então, recomeçar.
"nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo."
E como eu sei, e como eu sei!!!
As lágrimas são constantes,
mas é preciso.
Grande abraço, Fred!
es verdad, Fred! cuántas cosas ya marchitas guardamos que no dejan espacio para que florezca lo nuevo, lo vital en nuestro Ser!
bellísimo poema,
un fuerte abrazo.
para dar espaço ao presente ;) uma semana bem produtiva para você :) beijos
Hercília,
Parece que o chato (ou a chata), cujo objetivo era atrair atenção, sumiu e eu já vinha mesmo pensando deixar de moderar os comentários. Sim, farei isso.
Agradeço-lhe pelo gentil comentário.
Ótima semana.
Beijos
O Degas, sim, Tossan. O poema não tem a mesma estatura, mas agradeço-lhe a gentileza do comentário.
Ótima semana.
Abração
O único armário que nunca está completo, e no qual sempre há espaço, é o da nossa alma, Marina, onde cabem as velhas lembranças e os novos afetos.
Agradeço-lhe por vir e comentar.
Ótima semana.
Beijos
Obrigado, Patricia. É sempre um privilégio receber o seu comentário.
Ótima semana.
Beijos
Que a sua seja também, Lucília: produtiva e mágica.
Grato por vir e comentar.
Beijos
como sempre, lindo, sabe eu tbem ja joguei fora um montao de velhos cadernos, ainda tenho , mas pouco a pouco vai tudo pr'o lixo..nao vale nada..so guardo as minhas lindas cartas de amor, recebidas:) anos atras...mas sem reler, nao tenho coragem...
beijosssssssss
Belissimo!!
boa semana amigo!!
abraço
O féretro dos meus guardados é sem missa ou pompa, pois não cuido de saber o que fará dos meus despojos o catador de papéis, para quem os meus poemas são iguais aos outros papéis que recolhe para vender a peso.
Obrigado, Myra, por vir e comentar.
Ótima semana.
Beijos
Que bom que você gostou, Ju.
Agradeço-lhe por ler e comentar.
Ótima semana.
Beijos
Eu sou colecionadora de sentimentos,confesso, e sei que é difícil realmente esvaziar os armários sem lágrimas.
BeijooO'
Às vezes é preciso desfazer-se dos objetos que guardamos e que apenas servem como estopins, nem sempre necessários, para lembranças, outros que nem para isso servem e que vamos juntando anos a fio. Costumo, sempre que tenho tempo, usar o fim de ano, o fim de algum ciclo, para fazer essa limpeza dos armários.
Agradeço-lhe, Valéria, pela visita e comentário.
Ótima semana.
Beijos
"nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo."
Destaco esses versos pela beleza e sabedoria. O poema é lindo, pode acreditar. Bj
Nossa, Fred, perfeito do início ao fim. Em cada palavra! Parabéns!
É um dos meus preferidos, Adriana, portanto creio.
Agradeço-lhe a visita e comentário.
Ótima semana.
Beijos
Que bom que você gostou, Fabio.
Obrigado.
Ótima semana.
Abração
Belíssimo, Fred!
É preciso coragem e força para esvaziar uma certidão de óbito do pai, uma carta de amor. Mas tudo tem seu tempo.
E o que marca, a alma guarda. Desafio mior é entulhar de pó e mágoa os guardados.
Parabéns, Poeta
Beijos
Mirse
"nem tudo vai para o lixo sem lágrimas,
mas é preciso esvaziar os armários,
atulhados de ontens,
para dar espaço ao novo."
... nem tudo..., mas é preciso saber dizer adeus, né?! Hummmm, eu não consigo aprender....:)
Teu poema está fantástico. Gosto de te ler!
E sim, também espero que esse dia não demore muito a acabar para qe possam subsistir todos os restantes sem hipocrisias!
Beijos (sem dedos...) (brincadeira;))))
Mirse,
A carta de amor, neste caso, já não tinha sentido, pois o eu poético sequer se lembrava das feições da Lúcia, nem das circunstâncias da correspondência, mas a certidão de óbito do pai, a do meu está guardada, apesar de não me servir pra nada.
Agradeço-lhe a leitura e comentário.
Beijos
É como eu me sentiria,Lágrima, se fosse mulher, no dia das mulheres: esperando que acabe logo.
Grato por vir e comentar.
Beijos
"uma declaração de amor eterno
infinitamente mais breve
que o papel que a promessa encerra."
A declaração de amor eterno, mesmo quando nós morremos antes dele, sempre é infinitamente mais breve que o papel que a promessa encerra. O amor eterno é, por si só, finito e frágil. Só realmente conhece o amor o ser que antes conhece a liberdade. Liberdade de viver, de se entregar, de amar. O amor que dura todos os dias de todos os anos, no exato momento que ganhar a alcunha de "amor eterno" deixa de ser amor e passa a ser um fardo.
Lindo poema. Bjs.
Seu comentário aborda um aspecto do poema que me leva a considerá-lo entre os melhores que já escrevi. Saúdo-lhe e agradeço-lhe por isso, Dani, esperando que visite mais vezes o nas horas e horas e meias
Beijos
nos achados dos quinze quartos internos dispostos em precipícios: nem cartas, nem discos que abriguem o novo em seus vincos, como na manga esconde-se um Az.
sobra-nos o pó(emas)...e nada mais.
Abraço.
Angela
se nos sobra pó(emas)
sobra todo um universo
disposto em ordem de caos
quartos internos e externos
precipícios? sim, eternos
e se há na manga um Az
pra quê queremos mais?
agradeço-lhe a visita
e poético comentário
esperando vê-la sempre
nas horas e horas e meias
e como estes são os fatos
beija-a o Fred Matos
é preciso dar espaço para o novo, mas se desfazer do que passou nem sempre é uma tarefa fácil... por isso, olha como a mente humana tem suas saídas estratégicas, às vezes eu simplesmente perco!
lindo poema... criar e enterrar histórias...
beijos.
"se desfazer do que passou nem sempre é uma tarefa fácil..."
Raramente é, Maria: é da nossa natureza humana.
Agradeço-lhe pela visita e comentário.
Beijos
Penso que ter um monte de guardados, escondidos, secretos, amontoados... é ter uma memória loooooga!(Coisas para pensar e, vez em quando, esquecer). Abraços
Então a memória está atada aos objetos, Araceli?
Seguramente em alguns casos os objetos funcionam como elementos alimentadores do mecanismo da recordação, mas há lembranças que são sem sequer que haja objetos associados.
Grato por sua visita, comentário e por acompanhar o blog.
Beijos
... Pois são poucas as pessoas que conseguem carregar tudo!
Adorei, você escreve muito bem!
bienvenido a mi blog,primero,y hermosa creacion poeta,un aplauso!
muchas gracias
y como seguidor,espero que comentes mis trabajos...
gracias mil veces
lidia-la escriba
Nossas memórias...Seu texto é de pertencimento social, pode ser lido por muita gente, que sentirá ter sido escrito para cada leitor individualmente. Traz um pouco de melancolia e o desejo de renovação...Muito lindo...abraços
Preciso criar coragem e esvaziar armários, gavetas, porões... Mas como dói. Me emocionou Fred - muito. beijos.
Fred, admirado amigo e poeta, você foi falado lá no Novidades & Velharias em um post que conta uma realização que se aproxima.
Beijos,
H.F.
Oi Fred,
Compartilhamos da mesma idéia, devemos esvaziarmos os compartimentos para o atualizarmos, sempre. Fiz muito disso, hoje, estou mais tranquila...
Beijos e espero para um café,
Ana Lúcia.
Obrigado, Daniela. Espero vê-la mais vezes aqui.
Beijos
Obrigado, Lidia. Nem sempre comento os post que leio, mas tentarei fazê-lo sempre que possível.
Beijos
Obrigado, Paula: seu comentário é precioso.
Beijos
Dói sim, e é mesmo preciso uma certa dose de coragem.
Obrigado, Nydia.
Beijos
Vou logo mais dar uma olhada, Hercília.
Obrigado.
Beijos
Que bom que você está tranquila, Ana.
Obrigado por vir e comentar, e fique certa que, embora passe muitas vezes sem deixar sinal, tenho desfrutado do seu café e bate-papo.
Beijos
HERMOSO,BRILLANTE,POEMA! LOS SEGUIDORES MIOS HAY MUCHOS DE PORTUGAL Y BRASIL,TE AGRADEZO, Y ESPERO COMENTARIOS DE VOS,TENE PRESENTE QUE NO APARECEN MIS ACTUALIZACIONES NI ME LLEGAN LAS DE NADIE,POR ESO ME SUSCRIBO POR CORREO
SALUDOS MIL GRACIAS
LIDIA-LA ESCRIBA
Oi Fred,
Como no blog há margens para um estreitamento nas afinidades, eu quis voltar aqui para lhe dizer que acrescentei um texto relativamente longo, logo após você ter feito o seu comentário no que já havia.
Assim, penso que não estou ficando em falta com você.
Obrigada.
Beijos,
Eu sou do tipo que guarda tudo em caixinhas, dentro de caixas, dentro do armário. Às vezes é bom mesmo 'dar um limpa'...
Mas, aproveite a peça, ainda pode ser encenada.. ;)
Beijos,
Letícia Mariano
As gavetas onde guardamos os objectos e as memórias...
Um belo poema, Fred.
Beijos.
Fred
Só hoje vi a Canção de Fogo. Que maravilha. Ganhei o dia. :) Abraços.
Ah, sim. Uma hora as coisas devem ser reorganizadas ... guardar o que ainda serve e jogar fora o que não mais nos serve.
Deixar pra trás o passado e recomeçar, ou apenas continuar.
òtimo texto!
;*
Como estar no meio de tantas palavras bonitas, Fred.
Fico encantada... Seu blog é uma vitrine de sentimentos expressos em letras...
Um beeejo!
Grato, Lidia.
Beijos
Agradeço-lhe pelo aviso, Ana Lúcia. Assim que tiver um tempo passo pra ler.
Beijos
A peça era muito ruim, Letícia, melhor que tenha ido para o lixo.
Agradeço-lhe a visita e comentário.
Beijos
Obrigado, Graça.
Deixa-me contente que você goste.
Beijos
Eu gosto muito da canção de fogo e fico muito contente por você também gostar, Nydia.
Obrigado.
Beijos
Obrigado, Larissa. Eu concordo com você, mas nem sempre é possível adotar as soluções racionais quando há fatores emocionais envolvidos.
Beijos
A essência das suas palavras deixou-me comovido, amiga.
Obrigado.
Beijos
um bom dia para voce, nao sei porque mas sempre tenho problemas para entrar aqui!! bem, mando muitos beijos, e um bom domingo, ja sabe o quanto eu gosto de ler voce!...
claro, bobagem, ja sei, mas gostaria que me vez de me dizer algo aqui, escrevesse no meu blog...sim, pareço crianca!!!os velhos para ali vamos :)))
Você também tem problema para acessar o blog, Myra?
Já não sei o que fazer para tentar resolver. Só me resta sugerir que utilize o Firefox, pois até agora todos os que reportam problemas são usuários do Internet Explorer.
Ótima semana pra você.
Beijos
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