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terça-feira, agosto 25

uma lágrima para Anibal





Lamentavelmente, mais um amigo se despede. Morreu, na manhã de hoje, em Manaus, o amigo Anibal Beça, poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista. Anibal nasceu em Manaus em 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Tem dezenas de livros publicados e em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro “Suíte para os Habitantes da Noite”.

Não nos conhecíamos pessoalmente, mas a nossa amizade virtual data de mais de 10 anos: iniciou-se quando me convidou para participar da "Poemas" uma lista que criou com a Rosa Clement. Desde aquela época, creio que 1998, mantínhamos contato através de e-mail, com interrupções que decorriam de complicações causadas pelo que chamava de seu "rebelde diabetes".

De Anibal recebi estimulante e generoso comentário ao poema "Ausências". Comentário que está no livro "Eu, Meu Outro", publicado em 1999, ao lado de outros que muito me honram. Muito me honrou e comoveu, também a análise crítica ao livro "Anomalias", publicada aqui no blog.

O último poema que Anibal me enviou por e-mail foi este:


RECOMEÇAR

Anibal Beça ©


Prontos para fazer novo começo
assim como o bom dia novamente
sai do sol sem a névoa, seu avesso,
busquemos claridades displicentes.

O teu mundo não é maior que o meu
nem o meu choro é pouco do teu muito;
a pedra que me cabe nesse intuito
também te servirá no apogeu.

Todas as paixões passam num circuito
do Malecón de Cuba ao coliseu
no bem viver da vida e o seu minuto

O recomeço pousa nas pegadas
no desafio de verbo fortuito
de ressaltar as sombras salteadas.


Para Anibal escrevi o poema


amalgama amazônico


[para Anibal Beça]


fundada no verde e em versos
na lubricidade das matas
no caudal de rios e igarapés
vem do universo amazônico
uma poética que sem negar-lhe
transcende o regional e revela
sonoridades que amalgamam
como se fruta e semente
oriente e ocidente
alma e fera.

Fred Matos

terça-feira, setembro 23

a invenção da dança – Aníbal Beça ©



Lamentavelmente, são sei quem é o autor desta ótima foto.


Ouvir era ser ouvido
para a palavra pousar
na partilha da harmonia
de partitura espontânea
dos gestos das coisas simples:
o curvar-se até o chão
no apanhar frutos caídos;
altear-se até os galhos
buscando seca madeira
matéria morta, gravetos
para o fogo do aconchego.

Um cotidiano de música
pelos seus corpos regidos
a descobrir movimentos
de uma nova fantasia:
sons dos ossos em atrito,
músculos partejando água:
lagos na pele porosa
para afogar seus vislumbres.

De tudo saía música
somados a outros sons
de seu entorno silvestre.

Certo que o mudo silêncio
de melodia serena
cantava pelos seus gestos.

Mas se farta a melodia
padecia a percussão
parceira mais efusiva
que se apurasse no toque
quebrando a monotonia:
uma lição para as mãos
na companhia dos pés..

Na busca contemplativa
dessa intenção ao acaso
não sabida mas sabendo-se
oitiva de uma atenção.
no perceber acurado:
tarefa para os ouvidos.
casulo de muitas sombras
sede de santas sevícias.

Então do choque das pedras
das chispas de seu encontro
veio o fogo do barulho
acompanhar o trinado
dos que voavam sem rumo;
dar compasso ao vento solto,
que afina a fala das folhas.

Segredo em solo silvado
o verde traz seus recados
código do sol cifrado
para a noite das estrelas,
que sabe muito de luas,
e de seus iluminados.

Dos passos dos pés ouviram
as distâncias das campinas
o silêncio de cavernas
o murmúrio das cascatas
a surpresa das montanhas
o mistério azul do mar.

O sabor das maravilhas
degustado em seus espantos
foi-se mansamente em susto
enredar-se aos movimentos.

O verbo dado estendia-se
na imitação do já visto
e era ancho de se ver
a beleza revelando-se
na graça leve dos corpos.




Aníbal Beça ─ poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista ─ nasceu em Manaus, na Amazônia brasileira, em 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Tem dezenas de livros publicados e em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro “Suíte para os Habitantes da Noite”.

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