sexta-feira, novembro 14

biografia, capítulo dois: a primeira namorada


Foto: Adenor Gondim


a treva enorme da noite o vento frio
um grito apavorante um gato negro
passos pesados vindos do pântano
não tive como conter meu medo

corri na direção da sebe escura
a terra tremeu fui engolido
na queda perdi os sentidos
batia a cabeça quebrei um joelho

desejei que fosse um pesadelo
que nada daquilo fosse verdade
não creio merecer a crueldade
de ter cobras penteando o meu cabelo

no ninho de ofídios me vi perdido
rios de peçonha injetados nas veias
eu era o prato principal da ceia
e a carniça seria reduzido

desejei que a morte viesse ligeiro
para aliviar meu sofrimento
mas meu violento lamento
havia despertado uma feiticeira

nada antes me aterrorizara tanto
como o abraço gelado da megera
preferia ser panqueca de pantera
que amante daquele espanto

levou-me a uma úmida caverna
sarou minhas feridas a tarada
velou meu sono mil madrugadas
me manteve longe da baderna

um dia a peguei desprevenida
e o cheiro de sangue ainda quente
invadindo o meu corpo e minha mente
foi o afago que lhe fiz na despedida.


Fred Matos


2 comentários:

Anônimo disse...

mente e corpo
sempre deixam um adeus
na caverna sangrenta
de toda mulher

Fred Matos disse...

Abração, amigo Iosif

pesquisar nas horas e horas e meias