sábado, novembro 7

clown


não sei quem é o autor da ilustração


à academia,

prefiro ser

clown

saltimbanco

anônimo e anômalo

cuja muda

eloqüência dos gestos

germine não palavras cavas

mas covas de mandioca e milho

tijolos livros arados

fantasias e sorrisos

coisas com serventia


mesmo as covas que guardam

as [acadêmicas]

carnes da humanidade


sendo clown eu póço

iscrever iço e a kilo

quinem pó

emas chão

mas que xamo do que

karo

quero ao meu cora

são

 

Fred Matos

 

26 comentários:

nina rizzi disse...

bárbaro, fred, bárbaro! "eu quero o lirismo dos bebedos, o lirismo dos clowns de shakespeare!" (bandeira)...

e me fez lembrar do poema que está em minha bolsa, veja:

UM POETA
(Antonio Carlos Secchin)

Um velho Homero de província.
entalado numa Ática minúscula,
baba e versa em prosa melosa
suas memórias de pária e de pústula.

Rei de si mesmo, truão engalanado,
poeta acuado pelo peso dos anos,
por sua parca inspiração escoa
o esgoto fracassado de seus planos.

Crê-se o maior vate do planeta
um pigmeu no rodapé da poesia.
Implora a Deus por quem o louve.
Nada ouve? Ele mesmo se elogia."

e mais este, mas agora ao outro tipo (é bárbaro):

COLÓQUIO
(do mesmo Secchin)

Em certo lugar do país
se reúne a Academia do Poeta INfeliz.

Severos juízes da lira alheia,
sabem falar vazio de boca cheia.

Este não vale. A obra não fica.
Faz soneto e metrifica.

E esse aqui o que pretende?
Faz poesia, e o leitor entende!

Aquele jamais atingirá o paraíso.
Seu verso contém a blasfêmia e o riso.

Mais de três linhas é grave heresia,
pois há de ser breve tal poesia.

E o poema, casto e complexo,
não deve exibir cenas de nexo.

Em coro a turma toda rosna
contra a mistura de poesia e prosa.

Cachaça e chalaça, onde se viu?
Poesia é matéria de fino esmeril.

Poesia é coisa pura.
Com prosa ela emperra e não dura.

É como pimenta em doce de castanha.
Agride a vista e queima a entranha.

E em meio a gritos de gênio e de bis
cai no sono e do trono o Poeta Infeliz"

... bom, né. e o mundo tá cheio de párnasos chatos (nem todos são) e de críticos rasos... inclusive pras artes plásticas...

quanto a imagem, me lembrou um filme que assisti na infância e que me enchia de medo. tenho quase certeza que a foto é daquele maldito palhaço malvado.. rsrsrs...

ah, e grata pelos seus comentários que sempre enriquecem minhas postagens :)

um beijo.

Moni Saraiva disse...

Liberdade de ser clown. Até na hora de arrancar o riso de onde só há pedra...

Abraços!

Fred Matos disse...

Ê, Nina, maravilha estes poemas do Secchin.
Bem, este poema nasceu sob influência de um livro que estou relendo "Maiakóvski e o Teatro [russo] de Vanguarda", de A.A.Ripellino.
O russo foi tirado no título da tradução brasileira, que foi publicada em 1971 e, portanto, qualquer referencia à Russia ou à União Soviética poderia criar problema para a editora.
O livro é ótimo e, quando eu tiver tempo, vou digitar um trecho sobre a peça "O percevejo", "Comédia fantástica" em nove quadros, como Maiakóvski a denominou.
Voltando ao poema: os clowns são presenças marcantes do teatro russo de vanguarda que surgiu após a revolução de outubro, daí que...

Eu que te agradeço, por vir, por ler e por comentar.

Ótimo domingo.
Beijos

Fred Matos disse...

Onde só há pedra, Moni?
Que haja flores, que haja pão, que haja riso e poesia.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos

nina rizzi disse...

fred:
adoro os russos (dostoiévski na ficção, maiakóvski na poesia, mas N outros); adoro os clowns, o teatro, os sovietes, logo...

beijom outro :)

Fred Matos disse...

Eu também, Nina. E não podia ser de outro modo: uma grande parte da literatura que tive à minha disposição era literatura russa. Costumo dizer que se só pudesse reler um livro, seria "Almas Mortas" de Nikolai Gogol.

Beijo

Sonia Schmorantz disse...

Rssss muito bom!
abraços

myra disse...

como gostei deste "clown"! e as ultimas palavras, adorei, vc. ja sabe que gosto tanto como escreve e que escrev, um bom dia para voce,fred, beijo
P:S: a Nina, gostei muito destes poemas de Antonio Carlos Saecchin, nao conhecia.A gente aprende algo todos os dias...

Graça Pires disse...

Também prefiro as coisas com serventia. Há um clown em todos nós a subverter as coisas...
Um beijo.

BAR DO BARDO disse...

Muito bom, sr. Clown!

Wania disse...

Fred

...germinar em coisas com serventia!!!

Só por isso, já vale sermos Clowns!!!Quem precisará de mais!


Gosto demais de vir aqui te ler,
Bonito como sempre!
Bjs

Fred Matos disse...

Que bom que você gostou, Sonia.
Agradeço-lhe por vir, ler e comentar.
Ótimo domingo
Beijos

Fred Matos disse...

Eu sei mesmo é da sua imensa generosidade para comigo, Myra.
Obrigado, amiga.
Ótimo domingo
Beijos

Fred Matos disse...

Estamos concordes, Graça.
Obrigado.
Ótimo domingo.
Beijos

Fred Matos disse...

Sou-lhe grato, Sr. Henrique.
Abração

Fred Matos disse...

E eu fico muito contente porque você gosta, me visita e comenta, Wania.
Obrigado.
Ótimo domingo
Beijos

Fabio Rocha disse...

Perfeito!!!

Fred Matos disse...

Obrigado, Fabio.
Sempre me deixa contente quando vejo-o aqui.
Ótimo domingo.
Grande abraço

Tânia Meneghelli disse...

Verdade, Fred... Sendo "clown" a gente pode tudo e, se duvidar, mais um pouco. Adorei a construção desse poema. Também gostei muito do impacto que provoca a imagem que selecionou. Perfeito mesmo!
Beijoca!

Fred Matos disse...

Deixa-me contente que você goste, Tânia.
Agradeço-lhe pela visita, leitura e comentário.
Beijos

Unknown disse...

Ser clown. é ser humano, mais que humano. É ser livre e é esta liberdade que persigo, por isso amo todo o clown!

Maravilhoso, Fred!

Beijos

Mirse

Fred Matos disse...

Obrigado, Mirse.
Fiquei contente por você gostar e comentar.
Beijos

Adriana Godoy disse...

Fred, bom demais! Também prefiro ser clown! Bj

Fred Matos disse...

A nossa turma é grande mesmo, Adriana.
Agradeço-lhe por vir, ler e comentar.
Ótima semana.
Beijos

Lou Vilela disse...

Onde assino?! ;)

É sempre bom vir aqui, Fred!

Beijos

Fred Matos disse...

Já assinou, Lou.
É sempre bom recebê-la.
Obrigado.
Ótima semana.
Beijos

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