Ilustração: Alessandro Bavari
certeza eu não tenho nenhuma
mas como se trata de novidade
vim correndo lhes contar
que ouvi alguém dizer
que vaga na via láctea
ou na via crucis
- eu não sei distinguir entre elas -
um espermatozóide semiótico
que teria
dizem uns
fertilizado um óvulo gigante
no centro de um buraco negro
cujo resultado previsto
na opinião dos acadêmicos hedônicos
é a emersão de um pop-star brilhante
em uma epopéia apoteótica
algo assim
quem diria?
como desfile de escola de samba
na marques de sapucaí
ou como um palmeiras e corinthians
no estádio do morumbi
mas há controvérsia
afirmam outros
que o tal errou a rota
segue agora para andrômeda
onde pacientemente aguardará
que as duas galáxias se fundam
algo assim
quem diria?
como a praça castro alves
às cinco da madrugada
antes de mudarem para a barra
o encontro dos trios elétricos:
de um lado os tapajós
de outro a caetanave
armandinho dodô e osmar
descendo de são bento
o céu clareando atrás da ilha
que maravilha...
mas é como eu disse antes
certeza eu não tenho nenhuma
exceto que se fecunda
assim,
à-toa,
por nada,
uma alegria malvada
ou tristeza benfazeja
sempre que o pé na estrada
a mão na mala
o olhar na lua
anuncia uma canção
uma nova revolução
algo assim
quem diria?
como uma imensa procissão
de astros
destros
astutos
sinistros
meninos nus
nitrato de prata
rosas
rubis
diamantes
solitários
ninfas
sátiros
cabras
cobras...
mas é como eu disse antes...
Fred Matos
17 comentários:
Fred,
Como as coisas tomam proporções gigantescas a partir de um "eu ouvi dizer"...
Pensei na fecundação do caos.
Grande abraço!
adoravel.. lindos versos!
um caos bem definido pelas tuas palavras tao inteligentes...otimo, amigo meu, abraços e obrigada pelo comentario
Como gosto destes teus poemas!
que maravilha estes versos que nos levam a pensar que a criação da humanidade é algo fabuloso
beijo
Pois é, Liene, essa a razão de dizer-se que "quem conta um conto aumenta um ponto". Interessante que na sua leitura você tenha atentado para este aspecto do poema.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos
Não tão belos quanto as suas fotos, Paula.
Agradeço-lhe por vir, ler e comentar.
Beijos
Eu que agradeço, Myra.
Beijos
E eu gosto que você goste, Helena.
Obrigado
Beijos
Toda criação é fabulosa, Carla, não apenas no sentido metafórico de "coisa extraordinária", como também na acepção literal de fábula (narrativa). Isso me lembra que o apóstolo João, narrando (ou fabulando?) a criação diz: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” .
Agradeço-lhe pela visita, leitura e comentário.
Beijos
Fred, muito delirante seu poema, como um buraco negro no caos, mas recheado de estrelas. beijo.
que imagens... que paraísos astrais! talvez eu nunca mais consiga sair daqui.
Obrigado, Adriana.
Beijos
Bom saber, Maria. Fique o tempo que quiser: sinta-se em casa.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos
E outras tantas abundantes adundações, Marcos, mas para incluí-las todas eu teria que escrever um épico digno de Homero, coisa inviável nestes dias fugazes, nos quais o tempo do poeta para a poesia é o do ócio e o dos leitores, ainda mais breve, quando muito o suficiente para quatorze versos, ou pouco mais, ou muito menos.
Obrigado pela visita, leitura e comentário.
Abração
OLha,
eu fiquei assim até sem saber o que escrever.
Gostei demais do estilo.
Aplausos...
Bj.
Sua generosidade é notável, Talita.
Obrigado.
Ótimo fim de semana.
Beijos
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