sexta-feira, fevereiro 19

o revolvinho do tropeiro




não sei quem é o autor da ilustração
que encontrei
aqui


Em 2003 iniciava-se a campanha para o referendo que pretendia proibir a comercialização de armas de fogo e munições no Brasil. No dia 12 de Novembro daquele ano, a poeta amiga Márcia Maia enviou-me um cordel, contra a proibição, de Mauro Ferreira e Luis Carlos Borges cujo título é “O Revorve do Tropeiro”.

Apesar de ser contrário a qualquer censura ou proibição, aquela era, para mim, uma exceção justificável. Disso resultou este poema.



Aconteceu numa festa
onde a pinga rolou solta

uma desgraça sem vorta

porque um velho tropeiro
descuidado do seu revolvinho
foi sem querer desarmado
por um cabra desordeiro.

O cabra mandou primeiro

que todos ficassem sem roupa
depois mijou na sopa

do coroné Limoeiro

que apesar de velhinho

era hôme destemido.

Foi o primeiro estampido.


Quando ouviu o gemido

do seu paínho baleado

João, que estava mamado,

acudiu de peito aberto
O bandido estava esperto:

acertou no meio da testa
A segunda bala foi esta.


A terceira foi sem motivo

que motivo não teve o demônio

para acertar com um tiro

a imagem de Santo Antônio

que sendo muito pesada
rachou a cabeça raspada
do sanfoneiro Apolônio.


Antes que a quarta bala
acertasse de morte Maria

no meio da correria

morreram pisoteados

três crianças de berço

duas moças solteiras
meia dúzia de safados


Até aquele momento

o tropeiro fora poupado
da sanha do assassino

mas quis se fazer de ladino

saindo pela janela

levou um tiro na perna

que depois foi amputada.


No revolvinho fumegante

sobrava ainda um projétil

− cinco foram disparados −

aquele ficou guardado
para matar o poeta

que não estava na festa

e agora vive trancado.



Fred Matos

25 comentários:

Fred Matos disse...

ômi macho não dá tiro
não fere de faca
não bate de pau

ômi macho
mas macho mesmo
resolve qualquer disputa
sem briga, bagunça, punhal

ômi macho
macho mesmo
tem delicadeza de fêmea
e argúcia de capiau

Ômi macho não tem inimigos
nem faz de amigos degraus

Grande abraço, Marcos

nina rizzi disse...

gosto de cordel sem ser. ser.tão vc, fred. adoro esse quê de história, esse tudos poesia.

descobri uma lã que abre sua página. ÊÊÊÊÊ! :D

beijo.

Fred Matos disse...

que bom, que lã, que bom, visse?
na lã de cá de casa a tua vive aberta, quando não sou eu é Dila, também tua fã, e que, tendo mais tempo que eu, sempre chega antes e me avisa que não posso perder, nunca posso perder que tu só coloca filé, mulé.
cumé qui foi de carnavá?
ótimo fimdisemana, visse?
Xêro e beijo.

Evandro L. Mezadri disse...

Belo cordel, com uma mensagem pertinente e infelizmente repetitiva nos dias de hoje.
Grande abraço e sucesso!

Fred Matos disse...

Obrigado, Evandro. Deixa-me contente a sua visita e comentário.
Ótimo fim de semana.
Abraços

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Lindo poema...adoro a sua poesia.

Beijinhos
Sonhadora

Fred Matos disse...

Obrigado, Sonhadora, gosto que você goste.
Ótimo fim de semana.
Beijos

Michele S. Silva disse...

Confesso que mesmo gostando das coisas que rimam, nunca me dediquei a elas como devia. Jamais li um cordel, nem sabia o que era até "googlear".
Não sei porque cargas d´água me isso fez lembrar algumas peculiaridades da Revolução Federalista.
Enfim, Fred, obrigada por me apresentar este universo. Gostei muito e vou ler mais.
Beijos!

myra disse...

oi, Fred, apesar de que so entendi a metade:))) gostei, e sabe, com voce re-aprendo o portugues!!!
obrigada e muitos beijos

Fred Matos disse...

Fico contente, Michele: por você gostar e por se interessar por esse aspecyo da nossa cultura popular, cujas raízes estão na melhor tradição da poesia ibérica dos séculos XIV e XV.
Agradeço-lhe por vir, ler e comentar.
Ótimo fim de semana.
Beijos

Fred Matos disse...

Tendo à mão os textos do Iosif, não creio que você precise dos meus para reaprender o português, Myra, mas me alegra o seu comentário.
Obrigado.
Ótimo fim de semana.
Beijos

Fred Matos disse...

Ê, Marcos, você tem razão, mas se encontrou qualquer tipo de censura na minha resposta ao seu comentário, eu não tive esse propósito: apenas respondi versos com versos, na melhor tradição dos duelos dos repentistas. Censura? Não.
Ótimo fim de semana.
Abração

Valéria lima disse...

Delícia de ler esse cordel, Fred parabéns e bom final de semana.

BeijooO'

Fred Matos disse...

Obrigado, Valéria. Alegra-me a sua visita e comentário.
Beijos

myra disse...

talvez voce tem razao, mas os textos dele eu entendia, este teu, para mim, é um pouco "novo" em muitas palavras, mesmo se gostei como tudo que voce escreve, beijos e um bom domingo, e qdo dà uma volta là aos meus blogs? nao gosto de pedir isto, mas de vez em qdo, eu o faço mesmo se sei que é meio antipatico faze-lo:))))) oh, vaidade, porque ja sei que vai dizer algo bonito, que posso fazer, o meu ego precisa de vez qdo...

sopro, vento, ventania disse...

Fred, adoro literatura de cordel! Adorei o seu cordel. O tema é doloroso, doloroso. Não posso deixar de dizer que concordo plenamente com o seu posicionamento.
um beijo,
Cynthia

Mari Diamond disse...

Olá Fred,
Me emocionei com seu comentário sobre o meu texto "Carnaval em Mariana". Até poucos anos atrás guardava os meus escritos como em um diário...e ainda me enrubesco com o contato com o leitor.
Sou muito crítica em relação ao que escrevo, me sinto intimidada pela perfeição dos meus autores favoritos e pela rudez da academia. Tenho muitos vícios de escrita(em especial por trabalhar escrevendo sempre em Inglês), e nunca me senti segura para publicar.
Ainda assim o blog é um presente. E é muito bom poder dividir minha escrita, tão íntima, com pessoas que a apreciam.
Você é muito talentoso e sensível. É uma grande lisonja receber suas visitas em meu Papel.
Acho lirismo a coisa mais difícil do mundo. :-) E a mais linda. "Um poema não deve significar/Deve ser" disse MacLeish em Ars Poetica.
Cordialmente,
Mariana Diamond

Fred Matos disse...

Em instantes estarei visitando seus blogs, Myra, coisa que só me dá prazer. Não tem nenhum problema, nem eu considero antipático o seu chamado.
Obrigado, amiga.
Beijos

Fred Matos disse...

Que bom que você gostou, Cyntia.
Agradeço-lhe vir, ler e comentar.
Beijos

Fred Matos disse...

Vou em instantes à sua festa, Juliana.
Agradeço-lhe pelo convite.
Beijos

Fred Matos disse...

"Sou muito crítica em relação ao que escrevo, me sinto intimidada pela perfeição dos meus autores favoritos..."

Mari,

Eu a compreendo no que diz respeito à autocrítica, mas sei que é preciso não permitir que isso atinja um limite que nos tolha. Já no que tange à intimidação pelos textos alheios, eu não tenho este problema, porque mesmo nos autores que estão entre os meus favoritos, seja na prosa ou em verso, há textos mais fracos ao lado de textos excepcionais.
Fico contente que o meu comentário tenha emocionado você, porque sei a satisfação que me dá receber comentários como os seus.
Obrigado.
Beijos

Sandra disse...

CONVIDO VC PARA VIM CONHECER ESTE LINDO CANTINHO E CONFERI QUEM ESTÁ LÁ, COMIGO..
http://sandraandradeendy.blogspot.com/
FICAREI MUITO FELIZ COM A SUA PRESENÇA..CONVIDO A SER MEU SEGUIDOR MAIS NOVO DESSE LINDO BLOG, ALÉM DE VISITAR POETAS UM VOO LIBRE QUE TEM O LINK NO FINAL DA POSTAGEM..
UM GRANDE ABRAÇO..CARINHOSAMENTE.
SANDRA

Adair Carvalhais Júnior disse...

Belo poema, Fred.

Fred Matos disse...

Sandra,
Agradeço-lhe pelo convite.
Boa semana.
Beijos

Fred Matos disse...

Obrigado, Adair. Saudades de você. Nunca mais uma cachaça...
Ótima semana.
Abração

pesquisar nas horas e horas e meias