segunda-feira, novembro 9

falando sério. ou não?



suma sumaríssima de uma micro-epopéia ao som de tamborins.

Jules Le Fevre: "Mary Magdalene in the cave"


"Esqueci no piano as bobagens de amor
que eu iria dizer"

Chico Buarque, em “Lígia”


"Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão"

Caetano Veloso, em “Língua”




era tal o peso dos dogmas
naquela antiga civilização
que o céu ficou ao alcance das mãos
as crianças desatarraxaram as estrelas
como se fossem lâmpadas de brinquedo
e fez-se a escuridão
da qual ainda não escapamos
não obstante a ilusão iluminista
o gênio de Espinoza
e a sua concepção da substância divina

mas a natureza preserva os seus mistérios
e eu preferiria não tratar de temas sérios



Fred Matos

28 comentários:

Lídia Borges disse...

Esperemos que se faça luz.
A sério!

L.B.

Fred Matos disse...

Eu também espero, Lidia. Faz séculos que espero, mas tenho tempo, todo o tempo do mundo, e paciência.
Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Beijos

myra disse...

tomara! sim, Luz muita Luz,pena que eu ja nao tenho tanto tempo.. e sabe Fred eu amo o Chico e o Caetano!
um grde e forte abraço,

Carla disse...

o pior é que, às vezes, os temas sérios veem ter connosco e invadem-nos plenamente
beijo

Fred Matos disse...

Você tem luz própria, Myra.
Agradeço-lhe a visita, leitura, comentário e, sobretudo, a amizade.
Beijos

BAR DO BARDO disse...

Para a minha antologia cordial:
as crianças desatarraxaram as estrelas
como se fossem lâmpadas de brinquedo
e fez-se a escuridão

Fred Matos disse...

É nisso que dá deixar estrelas ao alcance das crianças, Henrique. Elas não fazem por mal, fazem porque é da natureza das crianças alcançarem às coisas para brincar, e, como você bem sabe, há coisas com as quais é muito perigoso brincar: estrelas, liberdades, sentimentos...
Obrigado, por vir, por ler, por comentar destacando justamente o cerne do poema e da questão.
Grade abraço

Fred Matos disse...

Onde foi parar o agradecimento que deixei aqui ao seu comentário, Carla?
Coisa da internet.
Agradeço-lhe por vir, por ler e por comentar.
Beijos

Adriana Godoy disse...

falando sério? uma delícia de poema, lindas imagens. Beijo.

nina rizzi disse...

hm, pois eu prefereria trata os temas sérios...

nossa, eu adoro esse trecho de lígia. e que madalena, mon dieu!

ai, fred, os dogmas. estão ai, né... credo.

cristinasiqueira disse...

Oi Fred,

Lindo!lindo! lindo!

A brincadeira de não brinco mais já que o peso trouxe o escuro.
Gosto quando a linguagem apresenta códigos da alma infantil sem ser bobinha.
É possível fazer poemas leves como este ,com rasgos de intelecto e aroma de sensibilidade...você fez.

Com carinho e admiração,

Cris

Espero sua visita

Fred Matos disse...

Obrigado, Adriana.
Beijos

dade amorim disse...

Profundíssimo, Fred. E verdadeiro.
O pior é que os dogmas têm visgo e deixam rastros na gente, por mais que se saiba que não levam a nada senão à imobilidade e à escuridão.

Beijo pra você.

Unknown disse...

Faça-se LUZ...
Bjo grande Fred
=)

Fred Matos disse...

Parece que é impossível livramo-nos dos dogmas, Nina. Até mesmo as mais ilustres inteligências quando procuram destruí-los é para substituí-los por outros.
Quanto a tratar de temas sérios, só se me fosse dado o poder para reorganizar as órbitas astrais, quiçá deter a expansão do universo (risos).
Não pense que não me afligem as auguras da humanidade, o problema é que a solução é uma tarefa ainda mais complexa que a da reorganização do universo. Não tenho me eximido dela: este poema é apenas mais uma pequena contribuição, pois creio que a dogmatização é um aspecto da questão humana que merece análise.
Pode ficar parecendo que eu me acho e me dou uma importância maior que a que tenho, mas é só impressão: sei que é mais um toque que tem um público restritíssimo e que pode ser um tiro n’água, porque evidentemente meu pensamento pode estar errado, mas é a minha maneira de tentar colaborar.
Agradeço-lhe pela presença, leitura e comentário.

Fred Matos disse...

Obrigado, Cris.
Ah! irei visitá-la ainda hoje, sem falta.
Beijos

Fred Matos disse...

É o que acho, Adelaide. Bom saber que se acho errado, erro em boa companhia.
Obrigado.
Beijos

Fred Matos disse...

Faça-se, Bia.
Obrigado, amiga.
Beijos

Gabriel T. disse...

Engraçado como vc joga o tema de forma meio ironica e deixa pra que pensemos. Leve e Profundo como não consigo ser. xD

Fred Matos disse...

Você consegue, sim, Gabriel. Agradeço-lhe a visita, leitura e comentário.
Grande braço

Unknown disse...

O céu ao alcance das mãos de crianças, seria talvez o mundo mais perfeito!

Em respeito à natureza, deixo um forte abraço!

Belíssimo poema, Fred!

Abraços

Mirse

Fred Matos disse...

Desde que as crianças não jogassem bola com as estrelas, estes objetos frágeis.
A verdade, Mirse, é que criança é sempre comovente e inocente, mas precisamos nos lembrar que trazem na herança anímica, e ainda sem os freios da ética, todos os nossos defeitos, sobretudo o egocentrismo e a crueldade.
Vê-se que hoje não estou muito poético (risos).
Obrigado, amiga, pela visita, leitura e comentário.
Beijos

Wania disse...

as crianças desatarraxaram as estrelas
como se fossem lâmpadas de brinquedo
e fez-se a escuridão


Criança brincando com eletricidade é um perigo, mas mais perigo ainda é a quando se faz escuridão!!!!

Ascender é luz é preciso!

Muito lindo!

Bjs

Hercília Fernandes disse...

Excelente poema, Fred. De uma riqueza contextual e semântica que enobrece a poesia e/ou filosofia da imaginação.

Bravíssimo!

Beijos :)
H.F.

Fred Matos disse...

Ascender para acender, Wania. É isso, exatamente isso.
Agradeço-lhe a vinda, leitura e comentário.
Beijos

Fred Matos disse...

Você sempre generosa, Hercília.
Obrigado.
Beijos

Talita Prates disse...

em tempos de (re)apagão,
teu poema ilumina.

Bj.

Fred Matos disse...

Obrigado, Talita.
Você acredita que, ontem à noite, quando soube do apagão, me lembrei imediatamente deste poema?
Beijos

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