Mostrando postagens com marcador murmúrios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador murmúrios. Mostrar todas as postagens

domingo, julho 11

morituri et salutant


foto: Fred Matos

os que vão morrer te saúdam
eu sobretudo e sempre
ontem, hoje, eternamente


Fred Matos


quinta-feira, fevereiro 18

epitáfios



foto: Fred Matos

1

Aqui jaz um poema

sem tema e fugaz.
Oremos
pra que siga em paz.


2

Sob a pedra dos signos
jaz a palavra inaudita
morta sem ser nascida.



3

Oremos pelo espírito
[se ressurreição não houver]

dos mortos sem juízo.


4

Aqui jaz a esperança
a última que morre.

Já não há que lhe ore.


Fred Matos.

sexta-feira, novembro 28

microgramas


foto: Luiz Fonseca


[para Danielle e Eneida]

 

Cinco, sete, cinco :
é a métrica exata
do poema mínimo. 

 

Quando lancei o “Eu, Meu Outro”, em 1999, o meu amigo Goulart Gomes não havia ainda cunhado a expressão poetrix para referir-se a tercetos que os puristas não gostam que sejam chamados haicais por usarem metáforas, não observarem a obrigatoriedade do kigô e outras questiúnculas que dividem os especialistas na matéria.

Como eu não estava disposto a discutir se eram ou não haicais os meus tercetos, usei o nome micrograma, que havia sido inventado pelo grande poeta equatoriano Jorge Carrera Andrade, nos anos vinte do século passado.

Na época eu estava lendo as crônicas de “Flauta de Papel” de Manuel Bandeira, e uma, intitulada “Haicais”, datada de 3/2/1957, refere-se aos microgramas de Jorge Carrera Andrade, mas também cita Valéry que acerca do haicais teria dito: “Às vezes se reduz graciosamente a uma expressão de tão absoluta simplicidade que se pode confundir com um estremecimento, um murmúrio ou o rastro de um perfume no ar”.

Até a hora de revisar os originais eu estava indeciso se usava microgramas, estremecimentos ou murmúrios. Agora, quem preferir, pode chamar também de poetrix, para mim os rótulos não têm muita importância.

 

Quando de palavras
o poeta se embriaga,
o verso estraga.

*

Sofre a palavra
se lhe mudam o sentido
em pobre metáfora. 

*

Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.

*

Flor de sangue, fogo
coral, dos campos de Java,
que Shiva fecunda.

*

Trapos coloridos
no varal dependurados
despem meus sentidos.

*

Flor da paixão, dádiva
divina, maracujá,
nascido na cruz.

*

Teu azul profundo,
nos olhos de cristal tímido,
cintila o mundo.

*

Na órbita mágica
da translação, o sol faz
e desfaz verão.

*

Ascendo as sendas
das verdes colinas mágicas
do ádito púrpuro.

*

Ela é uma flor.
Eu, beija-flor, beijo-a
e vôo alegre.

*

Vem, borboleta,
colorir minha infância
de sonhos leves.

*

O cio das moças
exala perfume raro
como flor em cacto.

*

No acroamático
aerófono há mágica
de canoro pássaro.

*

Navegantes lusos,
desafiando oráculos,
geraram-nos mulatos.

 

publicados em "Eu, Meu Outro"
Editora Poesia Diária
Maio/1999


 

pesquisar nas horas e horas e meias